O que é um santo? Depende da base religiosa de quem responde. Um católico romano afirmará que santo é aquele que ultrapassa os limites da humanidade, alcançando um nível de relacionamento com Deus que é muito mais profundo do que o dos crentes comuns. Tais pessoas recebem uma “graça especial” e se tornam até milagreiros em muitos casos. É por isso que são “canonizados” pela Igreja, e tornam-se objetos de veneração. Perfeitos. Ideais. Distantes dos padrões humanos comuns. Mediadores e dignos de adoração (na prática não há diferença entre venerar uma imagem e adorá-la — Êx 20.3-4).
Os evangélicos também possuem o seu próprio método de “canonização”. Só que num estilo diferente. Para nós, santo é aquele que é “diferentão”. Não sabe mais dizer um sincero: “oi, como vai?”. Para ele só vale alguma coisa como “saúdo-vos com a amantíssima paz do Senhor”. Santo é quem não mostra as canelas e não deixa crescer a barba. Na mulher, a santidade é medida pelo comprimento dos cabelos das axilas, ou pelo tipo de saia ou adereços utilizados. Para o evangélico, santo é o que não ouve Chico Buarque nem Chitãozinho e Chororó. Santo é quem não assiste televisão: é preciso ficar “100 dias sem TV para Jesus Te Ver!”. Santo é quem vê o diabo em tudo: na antena dos teletubies, no Mickey, na Mônica e na Magali. Santo é quem não lê “X-Men”. Santo é quem não toma vinho ou cerveja. Santo é quem não vai a teatro, ou cinema, ou exposições de arte. Santo é quem não dança. E por aí vai. E quanto mais esquisito, e mais distante da realidade cultural e social, mais santo e mais admirado. Tais alienígenas são “venerados” pelos crentes, que os vêem como referência de vida com Deus. E mais uma vez caímos na dificuldade do santo suprahumano. Santidade é vista como algo que exige um comportamento tão fora do normal que poucos a desejam ou alcançam.
Por isso é que sou cada vez apegado às crenças da Reforma. O protestantismo reformado não aliena o homem da vida. Pelo contrário, enxerga Deus como Senhor da Vida, e o homem como agraciado pelo Altíssimo, apto, em Cristo, a desfrutar da existência de forma equilibrada e satisfatória. A fé reformada ensina que santidade não é sinônimo de regras legalistas. Santidade é humanidade redimida e transformada pelo Espírito e pela Palavra, de dentro para fora. Será que confundi mais do que esclareci? Espero poder explicar mais sobre isso.
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