Eu citei anteriormente o Dicionário Houaiss, para quem um viciado é aquele “que é ou se tornou moralmente degradado; depravado, corrupto”, “que sofre ou sofreu desfiguração; deformado, deturpado […]”.[1] Outro modo de dizer isso é afirmar que o vício afronta a beleza da boa criação de Deus.
Nos dois primeiros capítulos do Gênesis destacam-se os imperativos divinos que criam a realidade. Deus cria, separa e ajunta. No fim do processo a terra, antes “sem forma e vazia” (Gn 1.2), torna-se “boa” ou “bela” (Gn 1.31). Até o tempo é delimitado em espaços para o trabalho e para o descanso (Gn 2.1). Leia o texto cuidadosamente e perceba uma progressão de organização.
O Deus bíblico é ordeiro e o seus seguidores devem também primar pela ordem, a fim de refletir sua imagem. Isso não significa que não haja lugar para a confusão; lembremo-nos de que o caos foi o resultado do primeiro ato criativo, conforme Gênesis 1.1-2. A questão é que, reproduzindo o modelo do Altíssimo, somos chamados ao bom gerenciamento.
Em um post anterior chamei a atenção para o valor dos bons propósitos. Aqui afirmo que estes só podem ser realizados com prática de gerência. Pessoas desorganizadas têm dificuldade de levar adiante quaisquer planos, simplesmente porque não sabem por onde começar. Eis aqui algumas dicas:
- Escreva o seu objetivo, por exemplo, “colocar em ordem meus documentos financeiros”, em uma lista de pendências.
- Escreva tudo o que é necessário para cumprir sua meta: separar uma manhã do dia de folga; adquirir envelopes para os papéis etc.
- Seja disciplinado. Dedique realmente aquela manhã à tarefa. Ao terminar um item, risque-o da lista.
- Se houver alguma interrupção (você precisar levar ao pronto-socorro seu filho que machucou o dedão no futebol) atenda à urgência.
- Caso tenha sido interrompido, retome a atividade até completá-la Proceda assim com todas as suas responsabilidades. Não desista até cumprir todos os seus compromissos, mesmo que isso exija alguns anos de dedicação.
Veja que a organização implica em perseverança. Deus não abandona seus projetos. Seus discípulos também não voltam atrás nos bons propósitos divinos (Hb 10.39). Isso começou a fazer sentido para mim quando li alguns textos de Agostinho (sobre o modo, a espécie e a ordem) e de Aristóteles e Tomás de Aquino (sobre os vícios como hábitos). Vejamos mais sobre, isso, em um próximo post.
Notas
1. “Viciado”. In: HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Sales. (Org.). Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. Versão 1.0.5a. Editora Objetivo Ltda., 2002. CD-ROM.
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