Os deveres mútuos do ministério

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[7] Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos pregaram a palavra de Deus; e, considerando atentamente o fim de sua vida, imitai a fé que tiveram.
[…]
[17] Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros. Hebreus 13.7, 17.

Pregado na IPB Rio Preto (50ª Reunião Ordinária d PRIP) em 27/11/2010, às 8h. Ouça a mensagem no web site da IPB Rio Preto.

Introdução

Thomas Oden, em Pastoral Theology: Essentials of Ministry, argumenta que é necessário enxergar os diferentes papéis daqueles que se ocupam com o pastoreio e os outros membros da igreja. A noção da vocação para um ofício especial é crucial para a compreensão de como ajudar as pessoas a viverem focalizadas em Cristo. O pastor pode orientar-se pelas ideias que outras pessoas possuem sobre a Escritura, teologia ou tradição. Ele ainda pode tornar-se um conselheiro profissional — alguém que aconselha em busca de remuneração. O oferecimento de serviços remunerados é completamente incompatível com o ministério. Nos dias atuais, são muitos os que confundem vocação com profissão e unção autêntica com manipulação emocional.

Os versículos que lemos nos falam dos deveres mútuos, do pastor e da igreja, relacionados ao Ministério Sagrado. O objetivo do autor de Hebreus é relacionar diversas responsabilidades espirituais. Ele focaliza em deveres universais, dando uma atenção especial aos “guias” (vv. 7, 17 e 24). Os deveres dos membros da igreja são declarados explicitamente, enquanto os dos guias estão implícitos (mas nem por isso menos claros).

Iniciarei destacando quatro deveres dos pastores. Em seguida, tratarei de dois deveres dos membros da igreja.

I. Os deveres dos pastores

[7] Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos pregaram a palavra de Deus; e, considerando atentamente o fim de sua vida, imitai a fé que tiveram.
[…]
[17] Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros.

O primeiro dever pastoral é o de liderar pelo exemplo: “guias […] fé que tiveram” (v. 7). Isso nos ajuda a responder à pergunta “O que é um pastor?” Em primeiro lugar, ele é um condutor. Ele recebe a responsabilidade de conduzir. Pressupõe-se que ele seja orientado pelo Senhor — saiba para onde vai e conduza o povo na direção certa. O pastoreio envolve essa capacidade de liderança. O pastor é aquele que fornece as palavras de comando, que guia a igreja para o alcance dos alvos estabelecidos pelo próprio Deus.

Percebamos, no entanto, esse detalhe: o pastor guia pelo exemplo. Ele é um discípulo humilde de Jesus Cristo, que conduz os seus irmãos como modelo de fé. Oden afirma que a vida do ministro é centrada em Cristo, orientada unicamente para o encaminhamento de todas as pessoas da igreja para a vivência de existências cristocêntricas. O pastor é responsável por direcionar os irmãos para a vida centrada em Cristo.

O apóstolo Pedro lembra aos ministros que devem pastorear “não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganâcia, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram confiados”, antes, tornando-se “modelos do rebanho” (1Pedro 5.2-3). A Escritura fornece boas palavras relacionadas ao pastoreio: escravo, diácono (operário) e despenseiro. Além disso, ele fornece o modelo supremo de pastoreio, o Senhor Jesus Cristo (Filipenses 2.1-11).

O Pastor Robert McCheine, servo do Senhor que faleceu com menos de 40 anos, afirmava: “o que o meu povo mais precisa é ver a minha santidade pessoal.” Isso se coaduna com a palavra de Hebreus 6.12: “de modo que vocês não se tornem negligentes, mas imitem aqueles que, por meio da fé e da paciência, recebem a herança prometida”.

O segundo dever pastoral é o de pregar: “vos pregaram a palavra de Deus” (v. 1). Enquanto o evangelicalismo moderno fabrica pastores orientados para o marketing de resultados e a manipulação sensacionalista, reafirmamos que o pastor é um homem da Palavra e dos Sacramentos. O ministro reformado é um homem do estudo, da meditação, da oração e da pregação poderosa.

O estudo e a meditação alinham o caráter às virtudes de Cristo. A oração confirma a dependência e o contínuo desfrute da doçura da obra redentora do Senhor. Além disso, ela nos confirma na bênção do Espírito, na autoridade sobrenatural que aplica na vida dos fiéis as bênçãos do ministério. Nenhuma estratégia gerencial substitui a eficácia da verdadeira oração. Pastores reformados sobrevivem, respiram e caminham na atmosfera da oração. Vidas são salvas, transformadas e santificadas pela pregação. O trabalho pastoral, como vimos, é um modelo e estímulo à fé. A pregação é o instrumento de Deus para a geração, manutenção, despertamento e fortalecimento da fé (Romanos 10.17). Por isso é preciso priorizá-la (Atos 6.4). Alguns pastores são citados por sua proficiência e poder singulares na pregação. Ouvi dizer que Bill Hybels, pastor da Willow Creek Community Church, investe 30 horas semanais em oração e preparação da pregação. Rick Warren, pastor da Saddleback Church, em Lake Forest, Califórnia, dedica às vezes 8 horas apenas lidando com o título de uma mensagem. O Rev. John Stott, pastor e conferencista internacional, diz que um sermão exige pelo menos 20 horas de estudo e preparação. Certa vez, em um seminário para líderes, alguém objetou que isso não seria possível para pastores brasileiros, que são muito ocupados, em virtude do atendimento das variadas demandas do ministério e que às vezes pregam sete sermões por semana. Stott respondeu que, em tais casos, o ministro deve pregar um bom sermão por semana, e pedir desculpa pelos outros seis. Não há desculpa para a negligência pastoral no serviço da Palavra e da oração.

O terceiro dever pastoral é o de cuidar: “velam por vossa alma” (v. 17). O termo velar significa “cuidar” e aponta para o modelo pastoral do Senhor (Salmo 23; João 10.11). As pessoas precisam ser conduzidas, tratadas, cuidadas e alimentadas. O pastor guia as ovelhas pelas “veredas da justiça” e em seguida trabalha para supri-las e abençoá-las. Isso significa que o pastor deve gostar de pessoas. Não cabe no ministério pastoral o dito infeliz de determinado pastor: “Amo a igreja mas odeio as pessoas”. Cf. “[…] aquele povo que segue com ele”. A totalidade do ministério é anulada sem o verdadeiro amor (1Coríntios 13.1-3).

Finalmente, é preciso dizer que, nesse processo de guiar e alimentar, está implícito o cuidado e proteção do rebanho. Os inimigos naturais das ovelhas são os lobos, os ursos e os grandes felinos. Ovelhas não possuem um sistema de defesa apurado. Elas não são rápidas como os coelhos, nem têm sistemas de camuflagem sofisticados, como os camaleões ou as codornas. Ovelhas não possuem presas afiadas nem pernas fortes e, por isso, não são páreo para seus predadores naturais. Ovelhas são vistas de longe pelos predadores e não conseguem lutar, reagir ou escapar. Quando surge um predador, a única defesa de um rebanho é o seu pastor. A profissão de pastor não é tão tranquila quanto parece. No primeiro século, o bom pastor era o que estava disposto a lutar e morrer por seu rebanho. Ao identificar-se como “o bom pastor”, o Senhor Jesus afirma que está disposto a assumir esta tarefa (João 10.11, 14). Ele nos protege de nosso arqui-inimigo, o diabo, e também lida eficazmente com nosso infame opositor, a carne. Jesus veio ao mundo para apascentar o rebanho de Israel, para agregar em torno de si os que percebem que precisam de ser supridos, cuidados e protegidos. O Senhor Jesus deixou um exemplo aos ministros. O pastor cuida das ovelhas, mesmo que isso lhe custe a vida. Não há ministério autêntico sem esta disposição para entregar-se e desgastar-se pela igreja.

Por isso um texto de leitura obrigatória é Ezequiel 34.1-10. Nessa passagem Deus se declara opositor dos maus pastores. O dito profético nos ajuda a responder com um “sim” a diversas perguntas: O pastor deve dar-se pela igreja? O pastor deve visitar? O pastor deve valorizar os membros da igreja? Queridos pastores, presbíteros regentes e seminaristas presentes, sejamos fiéis no cumprimento de nossos deveres.

O quarto dever pastoral é o de servir incondicionalmente: “como quem deve prestar contas […] façam isto com alegria e não gemendo” (v. 17). Veja que o texto se dirige aos membros das igrejas. Estes devem ajudar seus pastores a servir com alegria. Penso, no entanto, que isso deixa implícito que haverá ocasiões em que o serviço pastoral será envolto em negrume e tristezas. O pastor trabalha sabendo que prestará conta das almas que estão sob seus cuidados (Ezequiel 34.10). Se você, membro de igreja, for chamado hoje à presença de Deus, responderá por sua alma. Se eu for chamado hoje à presença de Deus, responderei por mais de 300 almas. A responsabilidade de quem ensina é muito mais elevada (Tiago 3.1). Essa primeira motivação deve nortear o ministério. O ministro íntegro não é estimulado por resultados imediatos ou passageiros, sua prioridade é ser fiel (1Coríntios 4.2).

Uma outra razão, decorrente da anterior, deve ser lembrada. Trabalhamos para receber a “imarcescível coroa da glória” (1Pedro 5.4). Enxergamos além da bruma — miramos para os céus e vemos, por fé, ao nosso Senhor Bendito, que nos espera com o maravilhoso galardão.

[…] e, por isso, estou sofrendo estas coisas; todavia, não me envergonho, porque sei em quem tenho crido e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele Dia (2Timóteo 1.12).

O melhor é servir com jovial alegria (Salmo 100.2). O excelente, porém, é conseguir alegrar-se em meio ao caos; glorificar ao Senhor em meio à tormenta; edificar um altar de devoção nas horas de maior tribulação:

[…] como desconhecidos e, entretanto, bem conhecidos; como se estivéssemos, morrendo e, contudo, eis que vivemos; como castigados, porém, não mortos; entristecidos, mas sempre alegres; pobres, mas enriquecendo a muitos; nada tendo, mas possuindo tudo (2Co 6.9-10).

Destarte, podemos nos lembrar das palavras do poeta, muitíssimo bem aplicáveis ao Sagrado Ministério:

Há homens que se esforçam por um dia e são bons.
Há homens que se esforçam por alguns dias e são melhores.
Há homens que se esforçam por toda a vida; esses são os imprescindíveis. Bertold Brescht.

Prezados irmãos, que sejamos tidos por imprescindíveis na obra do Senhor, esforçando-nos para, sob a graça e dependência contínua de nosso Consolador, cumprirmos esses santos e solenes deveres. E agora, após meditarmos sobre estas responsabilidades dos ministros da Palavra, temos de considerar, rapidamente, alguns deveres gerais dos membros das igrejas.

II. Os deveres dos membros das igrejas

[7] Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos pregaram a palavra de Deus; e, considerando atentamente o fim de sua vida, imitai a fé que tiveram.
[…]
[17] Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros.

[21] É, porventura, a lei contrária às promessas de Deus? De modo nenhum! Porque, se fosse promulgada uma lei que pudesse dar vida, a justiça, na verdade, seria procedente de lei.

O primeiro dever dos membros das igrejas é o de reconhecer a liderança pastoral: os pastores são “vossos guias” (v. 7).

Alguns membros de igrejas se acham por demais independentes, não querem ser guiados, mentoreados ou pastoreados. Dizem: “Eu não me deixo conduzir por ninguém”. Alguns até mesmo contribuem para alimentar a ideia de que a igreja não precisa de pastores. “Pastores são despesas, dão trabalho, enviem-nos um obreiro de tempo parcial e designem um pastor para vir apenas uma vez por mês; não precisamos de pastores”. Ouvi muito isso de líderes de congregações e igrejas estagnadas, e tal atitude explica a estagnação.

Outros até reconhecem a propriedade do ministério pastoral, mas de forma muito caricaturada e diminuta. Têm os pastores como mestres de cerimônias, abençoadores de recém-nascidos, festas aniversários e casamentos ou condutores de funerais. O pior é que alguns ministros assumem um procedimento que condiz com tais ideias.

A igreja do Senhor deve compreender que os pastores fiéis são presentes de Deus ao Seu povo (Efésios 4.10-11-12ss.). O profeta Jeremias confirma isso de forma muito linda e pertinente:

Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, que vos apascentem com conhecimento e com inteligência (Jeremias 3.15).

É por isso que os chamamos, no meio reformado, de reverendos, ou seja, homens a quem se presta reverência, não pelo título em si, mas pela autoridade advinda de sua fidelidade a Deus e à Palavra. Não devemos obediência e respeito aos hereges, nem aos insubordinados ou não-santificados, mas respeitamos e acatamos o ministério dos homens verdadeiramente vocacionados, dos servos do Senhor, das Escrituras e da igreja. Então, pastores devem ser valorizados e respeitados.

Aquele que desconsidera a liderança pastoral assume postura de bode ao invés de ovelha. Os bodes são teimosos e ariscos, eles devoram tudo o que veem pela frente – enquanto a ovelha se deleita em “pastos verdejantes”, bodes comem até capa de sofá. Ovelhas, com todo o seu jeito de mansas, possuem um controle de qualidade mais apurado, querem coisas boas, preferem a vida do que a morte, preferem o refrigério proporcionado pelo pastoreio do que o descontrole da vida autônoma. Ovelhas sabem descansar sob o bordão do Supremo Pastor e, também, dos seus guias terrenos. Elas obedecem e colhem os doces resultados de sua obediência. Elas seguem o pastoreio e chegam em boas águas.

Veja, se você é daquelas pessoas que têm dificuldade em atender a liderança pastoral, você pode não ser uma ovelha, você pode ser um bode ou cabrito e, acerca destes, há uma solene revelação da Escritura (Mateus 25.31-34, 41). Isso é fortalecido pelo argumento do v. 7: “lembrai-vos […] considerando atentamente” (v. 7). Leve o seu pastor em consideração. Permita-se discipular por seu guia terreno.

O segundo dever dos membros das igrejas é o de acatar a autoridade dos pastores e colaborar com os seus ministérios: “obedecei […] sede submissos” (v. 17). Não me delongarei nesse ponto, que é por demais auto-evidente. Basta lembrar o ensino de João Calvino: quando desobedecemos aos nossos pastores, fazemos mal às nossas próprias almas, uma vez que eles são incumbidos de “velar” pelas almas. Uma igreja que não acata ao seu pastor, quando este caminha em fidelidade, será disciplinada pelo Senhor. Por isso o autor da carta aos Hebreus afirma a insubordinação produz fruto ruim: “porque isto não aproveita a vós outros”. Quanto mais uma igreja colabora com o seu pastor e ajuda a tornar mais leve o seu fardo, mais este trabalhará com alegria, produzindo abundância de frutos.

Concluindo…

A gente olha para os textos e parece que há um resultado desigual. A partida terminou como 4 x 2. Os pastores têm 4 obrigações e os membros da igreja, apenas 2. Isso seria verdadeiro se estivéssemos falando de uma partida entre times opostos. A questão é que tanto pastor como igreja jogam no mesmo time. São um time, um organismo que serve em totalidade harmônica (Efésios 4.16).

Conheço ovelhas que reclamam de seus pastores, ao mesmo tempo em que não atentam para seus deveres espirituais. As ovelhas devem atender às vozes de seus pastores, devem colaborar no ministério, devem auxiliar na produção dos frutos e da expansão do reino de Deus. Conheço pastores que reclamam das ovelhas, ao mesmo tempo em que desconsideram os seus deveres e se esquecem do privilégio de sua vocação e da “celestialidade”, como diz o Rev. Nilson Rodrigues de Oliveira, amigo do Presbitério do Planalto.

Nós, pastores, precisamos ouvir o clamor do rebanho que o Supremo Pastor nos confiou. Por isso termino esta mensagem com um apelo — apelo este universal, uma tradução e sumário dos desejos da igreja de Jesus Cristo. Lerei os termos desse apelo e oro para que o Espírito Santo os confirme nesses sublimes deveres.

O título desse texto que lerei é O Que as Igrejas Esperam de Seus Pastores.

Você é nosso pastor, ajude-nos a nos assemelhar a Cristo. Queremos que você seja responsável por dizer e representar entre nós aquilo que cremos sobre Deus, o Reino e o Evangelho.
Cremos que o Espírito Santo está entre nós e em nós. Cremos que o Espírito de Deus continua a pairar sobre o caos do mal deste mundo e do nosso pecado, moldando uma nova Criação e novas criaturas. Cremos que Deus não é um espectador, às vezes divertido e às vezes alarmado com os destroços da história mundial, mas, um participante. Cremos que o invisível é mais importante que o visível em qualquer momento e em qualquer evento que decidamos examinar. Cremos que tudo, especialmente tudo que parece destroço é material que Deus está usando para criar uma vida de louvor.
Cremos tudo isto, mas não vemos. Vemos, como Ezequiel, esqueletos desmembrados, brancos sob o sol impiedoso da Babilônia. Vemos uma porção de ossos que antes haviam sido crianças rindo e dançando, adultos que expunham suas dúvidas e cantavam louvores na igreja – e pecavam. Não vemos os dançarinos, os enamorados ou os cantores – só vislumbres fugidios deles. O que vemos são ossos. Ossos secos. Vemos pecado e julgamento sobre o pecado. É isso o que parece. Parecia assim a Ezequiel; parece assim para quem quer que tenha olhos para ver e cérebro para pensar; e parece assim para nós.
Mas cremos em algo mais. Cremos que esses ossos vão reunir-se, transformando-se em seres humanos com nervos e músculos, que falam, cantam, riem, trabalham, crêem e bendizem o seu Deus. Cremos que aconteceu da maneira como Ezequiel pregou e cremos que ainda acontece. Cremos que aconteceu em Israel e que ocorre na igreja. Cremos que somos parte do acontecimento enquanto cantamos louvores, ouvimos a Palavra de Deus, recebemos a nova vida de Cristo nos sacramentos. Cremos que a coisa mais significativa que acontece ou pode acontecer é que não estamos mais desmembrados, mas unidos ao corpo ressurreto de Cristo.
Precisamos de ajuda para manter nossa fé viva, precisa e intacta. Não confiamos em nós mesmos. Nossas emoções nos atraem para a infidelidade. Sabemos que nos aventuramos num ato perigoso e difícil de fé e que existem influências fortes, desejosas de dissolver ou destruir essa fé. Queremos que nos ajude. Seja nosso pastor, um ministro da Palavra e dos sacramentos em todas as diferentes partes e estágios de nossas vidas – em nosso trabalho e recreação, com nossos filhos e nossos pais, no nascimento e na morte, em nossas celebrações e tristezas, naqueles dias em que a manhã se inicia com um sol radiante, e naqueles dias em que o tempo está sombrio. Esta não é a única tarefa na vida de fé, mas é a sua tarefa. Encontraremos outra pessoa para fazer as outras tarefas importantes e essenciais. Esta é a sua tarefa: Palavra e sacramento (ordenanças).
Mais uma coisa: Vamos ordená-lo para este ministério e queremos sua palavra de que vai manter-se nele. Este não é um trabalho temporário, mas um estilo de vida que precisamos que seja vivido em nossa comunidade. Sabemos que você faz parte da mesma aventura difícil de fé, no mesmo mundo perigoso em que vivemos. Sabemos que as suas emoções são tão instáveis quanto as nossa e sua mente é tão ardilosa quanto a nossa. É por isso que vamos ordená-lo e exigimos uma promessa sua: Sabemos também que haverá dias e meses, talvez anos, quando não teremos vontade de crer em nada e não queremos ouvir nada de você. Sabemos que haverá dias e meses, talvez anos, quando você não terá vontade de dizer nada. Não faz mal. Faça isso. Você está ordenado para este ministério, comprometido com ele. Haverá épocas em que iremos a você em comitê ou delegação e exigiremos que nos diga algo além do que estamos lhe dizendo agora. Prometa neste momento que não cederá ao que estamos exigindo de você. Você não é ministro de nossos desejos inconstantes, ou da compreensão condicionada ao tempo das nossas necessidades, ou de nossas esperanças secularizadas de algo melhor. Com esses votos de ordenação estamos prendendo você com toda força ao mastro da Palavra e do sacramento, de modo que não poderá atender à voz da sereia.
Há muitas outras coisas a serem feitas neste mundo em escombros e vamos estar fazendo pelo menos algumas delas, mas se não soubermos as realidades básicas com as quais estamos tratando – Deus, reino, evangelho vamos terminar vivendo vidas fúteis, fantasiosas. Sua tarefa é continuar contando a história básica, representando a presença do Espírito, insistindo na prioridade de Deus, falando as palavras bíblicas de comando, promessa e convite.
Isso, ou algo bem parecido com isso, é o que ouço a igreja dizer aos indivíduos que ordena como pastores, mesmo quando as pessoas não conseguem articular as palavras.
Eugene Peterson, O Pastor Contemplativo.

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