Um dos mais belos textos do AT é Provérbios 24.16: “porque sete vezes cairá o justo e se levantará […]”. A palavra chama a atenção, primeiro, pelo uso do número sete que, especialmente no livro de Apocalipse, significa inteireza ou completude.[1] Alguns sugerem que aqui aprendemos que Deus possui uma provisão para todas as quedas do justo.[2] Tal argumentação deve ser revista, uma vez que é inadequado interpretar um dito proverbial como se fosse um símbolo. Números simbólicos são comuns na literatura apocalíptica, mas Provérbios se encaixa na literatura bíblica de sabedoria.
O problema maior é aplicar o provérbio às quedas morais. Viciados utilizam a passagem para defender a ideia de que podem continuar tranquilos na prática de seus pecados, pois o Senhor os ajudará indefinidamente. Em meu coração encontro essa inclinação perversa, o argumento destrutivo: “peca, pois Deus perdoa”. Trata-se, nesse caso, de um barateamento da graça divina.
As “quedas” a que se refere Provérbios são as “desgraças” (Nova Tradução na Linguagem de Hoje, NTLH) ou, nos termos do restante do versículo, a “calamidade” (Almeida Revista e Atualizada, ARA). O ponto defendido pelo provérbio é o seguinte: a grande perda, destruição ou catástrofe derruba os perversos mas não aos crentes; os justos passam pela tribulação de forma diferente, pois são levantados pelo Senhor.
Cristão viciados precisam identificar seus problemas e tratá-los, lutando para permanecerem “sóbrios”. Não devem escorar-se em passagens bíblicas mal interpretadas a fim de adiarem o abandono da prática ilícita. É necessária imediata mortificação do pecado, o que exige aplicação diária do evangelho no coração e, em determinados casos, auxílio pastoral e clínico.
Sem dúvida Deus é com seus eleitos, e estes, pelo poder do Espírito, são “santos” (1Pe 1.13-21).
Uma questão que se levanta é: Um cristão pode ser viciado? Eu falo sobre isso em um próximo post.
Notas
1. Cf. Apocalipse 1.4,11,12,16; 5.1; 8.2; 10.3; 11.13; 12.3; 15.6,7; 17.9.
2. Eu creio que Deus possui tal provisão. O ponto a discutir é se Provérbios 24.16, de fato, ensina isso.
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