A vida seria insuportável sem o silêncio. O coração tumultuado precisa experimentar a tranqüilidade proveniente da ausência de perturbações. Esse estado de pleno descanso é a base para diversos benefícios espirituais, afetivos e físicos.
Vivemos numa cultura de consumo, sendo escravos do tempo e presas da ansiedade. Não raro eu me descubro, em determinados instantes, lidando com dezenas de pensamentos simultâneos. O cérebro em atividade frenética, processando imagens e dados, tecendo análises, alinhavando argumentos e adiantando projetos. O coração a mil: correria; confusão; ausência de silêncio.
Isso me faz concluir que o silêncio não é apenas físico. Eu posso estar em plena tormenta, esmagado pelo tumulto, mesmo quando meus ouvidos não estão sendo incomodados com uma quantidade exagerada de decibéis. Existe um silêncio emocional e espiritual, que eu preciso aprender a cultivar: “O SENHOR, porém, está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra” (Habacuque 2:20).
O silêncio nos cultos, no templo físico, é um fenômeno cada vez mais raro. Silenciar é chato, produz uma certa agonia; aquela “coceirinha” na ponta do dedão do pé que me faz remexer os sapatos na hora da oração silenciosa prolongada. “Gostosos” são o barulho e ritmo (e quanto mais melhor), pois estes reproduzem melhor o estado ansioso dos corações não tratados pela graça.
O silêncio no templo espiritual, que é o nosso coração, carece de ser incentivado. Existe uma pedagogia da vontade em guardá-lo. Se você acha que é simples, tente por uma semana. Sozinho, busque silenciar todas as vozes e eliminar todas as inquietações. É fácil?
Lembro-me das profundas palavras do salmista: “Senhor, não é soberbo o meu coração, nem altivo o meu olhar; não ando à procura de grandes coisas, nem de coisas maravilhosas demais para mim. Pelo contrário, fiz calar e sossegar a minha alma; como a criança desmamada se aquieta nos braços de sua mãe, como essa criança é a minha alma para comigo. Espera, ó Israel, no Senhor, desde agora e para sempre” (Sl 131).
Silêncio, então, tem a ver com fé; com o acesso que temos a uma bênção desconhecida pela maioria das pessoas. Quando nos apropriamos disso, experimentamos a paz.