O senhor dos anéis e a batalha entre o Bem e o mal

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Chega às telas dos cinemas brasileiros o segundo episódio da trilogia O senhor dos anéis, de J. R. R. Tolkien. As duas torres relata os fatos ocorridos após a divisão da Irmandade do Anel e prepara o terreno para a batalha final, mostrada no terceiro volume da obra de Tolkien, O retorno do rei.

Trata-se de um filme que vale a pena assistir, não apenas por suas qualidades técnico-cenográficas mas, acima de tudo, por seu conteúdo moral e espiritual. O Senhor dos anéis difere grandemente de outras obras do gÍnero, tais como Harry Potter ou as lendas do Rei Arthur.

Basicamente, Tolkien desenvolve uma trama que, além de empolgante é rica em reflexões sobre a luta entre o Bem e mal. Observe que tanto no título da figura quanto neste parágrafo, “Bem” é escrito com maiúscula e “mal” com minúscula, algo que expressa adequadamente o pensamento de Tolkien.

Sim, o mal existe e manifesta-se de diversas formas. No escrito de Tolkien, ele possui um vínculo estreito com o poder e torna-se concreto no anel, denominado o UM. Tal anel é buscado por Sauron, Senhor de Mordor, a fortaleza das trevas, que comanda um séquito com o objetivo de descobrir seu paradeiro, a fim de obter controle absoluto sobre o Universo. Mas este mal possui algumas características dignas de nota, quais sejam, ele é intensamente sombrio, sedutor, sutil e ao mesmo tempo violento. Ele possui sua própria “sabedoria” e ensinamentos profundos. Ele avança e escraviza os fracos e parece, em determinados momentos, que está prestes a dominar tudo o que existe. Até aqui, nada muito diferente dos outros livros e filmes épicos.

O diferencial de Tolkien começa nesse ponto: O mal é perdedor e se autodevora. Aqueles que o abraçam destroem-se mutuamente, cada um desejoso de obter o “poder”. O mal esmaga pelo conflito que produz e pela angústia que traz à alma. Ele é limitado, não é soberano.

Quanto ao Bem, é livre e soberano. Está presente nas coisas que existem, mesmo que às vezes meio apagado pelo mal. Ele agrega pessoas de forma eletiva e as fortalece para o cumprimento da Missão. O personagem Frodo é um exemplo de alguém simples que é, literalmente, predestinado para destruir o anel, uma tarefa que encontra-se totalmente além de suas capacidades naturais. O Bem se autorrealiza. Ele dirige os fatos da História para o cumprimento de seus propósitos de juízo e redenção.

É por isso que alguns consideram O senhor dos anéis como um épico moralista. Sim, Tolkien esforçou-se por 13 anos a escrevê-lo assim, com o objetivo de retratar, na rica mitologia por ele desenvolvida, uma lição que refletisse os ensinos da Bíblia. Católico, ele expressou suas convicções religiosas na trama e foi muito bem-sucedido. Aliás, para quem não sabe, Tolkien tentou atrair C. S. Lewis, autor das famosas Crônicas de Nárnia, para o Catolicismo, mas Lewis terminou se tornando membro da Anglicana, mantendo relações (nem sempre cordiais) com Tolkien.

O cristão presbiteriano não terá sua fé atacada em O senhor dos anéis, nem sairá do cinema sob efeitos subliminares demoníacos, como apregoam alguns fanáticos. Trata-se de um bom e longo filme (cerca de três horas de duração) com excelente fotografia, ótimo enredo, efeitos especiais estonteantes e mensagem saudável. E além do filme, recomendo o livro, concordando cada vez mais com a afirmação ousada do The sunday times: “O mundo está dividido entre aqueles que já leram O hobbit e O senhor dos anéis e aqueles que ainda não leram”.

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