Tenho em mãos as últimas edições da revistas SUPERINTERESSANTE (ed. 312, dezembro/2012) e Galileu (ed. 256, novembro de 2012). Na capa da primeira lê-se “Jesus: A Verdade Por Trás do Mito: Ele Era Moreno, Baixinho e de Cabelo Curto. Não Foi Traído Por Judas. Nem Nasceu no Natal. Conheça a Verdadeira Face de Cristo”. Na capa de Galileu reproduz-se um vitral no qual uma figura de Jesus pega na mão de uma mulher aparentemente grávida, circundado pelas palavras “A Paixão de Cristo? A Descoberta de Um Documento Revive a Polêmica: Jesus Era Casado? Saiba O Que a Ciência Revela Sobre Esse e Outros Mistérios Que o Cercam”.
Periódicos e revistas assumem um compromisso editorial de chamar a atenção para tópicos religiosos, publicando artigos sobre a Bíblia, Jesus e a religião cristã. A abordagem destas publicações se diz isenta. Entende-se que tais textos expressem o ponto de vista de um jornalista que se debruça sobre um tema, coleta os dados disponíveis e escreve conclusões honestas a partir dos dados coletados.
Quando se levanta algo que ocorreu na esfera política ou no âmbito criminal, o ideal é ouvir todas as pessoas envolvidas na história. Uma prática do bom jornalismo é ouvir com isenção as partes envolvidas e registrar objetivamente o que ouviu, fornecendo ao leitor subsídios para que este seja não apenas informado, mas também capacitado a assumir uma posição inteligente ao fim da leitura e processamento da informação. Qualquer coisa diferente disso deixa de ser transmissão e passa a ser manipulação da notícia.
Nesses termos, a prática livre do bom jornalismo é importante para a manutenção e aperfeiçoamento da sociedade democrática. O jornalismo é usado pela Providência para encaminhar processos históricos relevantes, além de gerar um público leitor devidamente informado sobre o cabedal de construtos que denominamos “conhecimentos gerais”.
Faz parte do bom jornalismo ser consistente no tratamento das matérias por ele abordadas. Não seria bom jornalismo explicar a Economia — ou qualquer área de conhecimento humano — sob um ângulo único. A publicação de uma opinião contrária a determinado cânone exige o esclarecimento da posição canônica. Uma revista que dedique três páginas para registrar a ideia de um líder religioso que não acredita no inferno, deveria abrir espaço igual para a divulgação da doutrina do inferno articulada por alguém que crê em sua existência. Somente assim tal prática jornalística seria, de fato, isenta. O leitor assumiria posição depois de entender corretamente os diferentes pontos de vista.
Não é o que a gente vê quando estas revistas e periódicos abordam o Cristianismo histórico. O humanismo, de modo geral, sempre assumiu uma postura crítica. Foi assim no século 16. Erasmo de Roterdã criticou a Igreja Institucional; Martinho Lutero destacou o quanto o romanismo havia se desviado das Sagradas Escrituras. A partir dos séculos 18 e 19, consolidou-se uma crítica não mais ao modo como o Cristianismo se desviava da Escritura, mas à própria credibilidade da Escritura. Passou-se a criticar a própria ortodoxia. Criticou-se não apenas um Cristianismo que poderíamos chamar de “desencaminhado”, mas criticou-se o Cristianismo em si.
É no contexto desta nova moldura que nós questionamos estas críticas que são feitas aos tópicos-chave da fé cristã. Em nome de um “jornalismo isento” são atacados os pilares do Cristianismo histórico e ortodoxo. Isso é feito sem fornecer aos cristãos bíblicos um espaço equivalente de resposta. Como o cristianismo histórico é fragmentado, sem um veículo de comunicação integrado que faça frente aos conglomerados editoriais, as respostas publicadas em revistas ou livros cristãos não conseguem alcançar, quantitativamente, o mesmo público leitor das grandes publicações. Conclusão: Os leitores pensam que foram bem-informados quando, de fato, foram ludibriados.
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