As festas juninas e a liberdade cristã

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Festas juninas

Um cristão protestante pode participar de festas juninas? Três respostas têm sido dadas a esta pergunta. Primeiro, há os que dizem “sim”, uma vez que entendem as festas juninas como celebrações cristãs. Afirma-se, nesse caso, que estamos diante de festejos ligados a personagens bíblicos tais como João Batista, Pedro e Paulo e isso, por si só, legitima tais festas como integrantes do calendário cristão. Essa é a posição defendida pela Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR).

Outros respondem com um absoluto “não”. Entendem que o ensino do Catolicismo Romano sobre os santos não é bíblico. A Bíblia não prescreve nenhuma festa ligada aos profetas ou apóstolos, muito menos a nenhum ser humano canonizado pela igreja. Não há espaço para a crença em santos mediadores. Segundo as Escrituras “há um só mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem” (1Tm 2.5). Esta é a posição defendida pela maioria dos evangélicos conservadores e tradicionais.

Uma terceira resposta inicia com um “não”, afirmando que os cristãos protestantes devem afastar-se das comemorações romanistas das festas juninas e, ao mesmo tempo, finaliza com um “sim”, abrindo espaço para a realização de arraiais gospel — festas caipiras evangélicas. Essa posição tem sido defendida tanto pela maioria dos evangélicos neopentecostais quanto por alguns conservadores e tradicionais.

Aqui é recomendável lembrar as palavras do apóstolo Paulo:

Portanto, meus amados, fugi da idolatria. Falo como a criteriosos; julgai vós mesmos o que digo. Porventura, o cálice da bênção que abençoamos não é a comunhão do corpo de Cristo? Porque nós, embora muitos, somos unicamente um pão, um só corpo. Considerai o Israel segundo a carne; não é certo que aqueles que se alimentam dos sacrifícios são participantes do altar? Que digo, pois? Que o sacrificado ao ídolo é alguma coisa? Ou que o próprio ídolo tem algum valor? Antes, digo que as coisas que eles sacrificam, é a demônios que as sacrificam e não a Deus; e eu não quero que vos torneis associados aos demônios. Não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios; não podeis ser participantes da mesa do Senhor e da mesa dos demônios. Ou provocaremos zelos no Senhor? Somos, acaso, mais fortes do que ele? (1Co 10.14-22).

Um dos fatos a destacar é que, no texto em questão, Paulo trata da participação dos cristãos em refeições realizadas no contexto de rituais pagãos (Bíblia de Estudo de Genebra, p. 1357, 1357). Sua convicção é que a idolatria produz uma ligação espiritual — um vínculo com os demônios. Para o apóstolo, o problema não era que os crentes se sujeitavam a algum tipo de opressão demoníaca quando comiam coisas ligadas aos ídolos, mas que, ao fazerem isso, depreciavam sua comunhão com Deus, na Santa Ceia, ou seja, agiam de modo inconsistente com a aliança, e, deste modo, provocavam o “zelo” do Senhor (1Co 10.18-22).

Isso pode ser transposto à questão das festas juninas por meio de um argumento de quatro pontos, qual seja:

  1. A veneração aos santos da ICAR, por ferir não apenas a recomendação de 1Timóteo 2.5, mas também Êxodo 20.3-6, é idolatria.
  2. As festas juninas, ligadas à veneração dos santos romanistas, são idólatras.
  3. O cristão, de acordo com 2Coríntios 10.14, deve fugir da idolatria.
  4. Portanto, o cristão deve fugir das festas juninas.

Anteriormente eu até achava que não havia problema em uma criança pequena participar dos festejos juninos de sua escola. Hoje penso que o melhor é os pais explicarem a essa criança as razões pelas quais ela não participará da festa junina. É mais instrutivo, bíblico e edificante.

Mas, o que dizer da “alma caipira” que reside em nós, que nos motiva a acender fogueira, assar mandioca e batata-doce e comer bolo de fubá? Qual o problema, por exemplo, de realizar uma noite caipira ao som do Xote Santo e, quem sabe, até brincar inocentemente de quadrilha gospel? Ou criar uma “Festa dos Estados”, com barracas de comidas típicas ou algo semelhante, quem sabe até como estratégia para atrair visitantes?

Inicialmente, declaro meu respeito aos colegas pastores e irmãos em Cristo que não enxergam problemas na realização desses eventos. Eu mesmo já acreditei que isso podia ser feito sem prejuízos para o testemunho cristão e fiz isso de muito boa fé, com a alma sincera diante de Deus. No entanto, mudei de posição. Hoje, creio que a produção de versões gospel das festas juninas não é recomendável por algumas razões. Primeiro, porque o evangelicalismo está ficando saturado de versões gospel de tudo: Temos as boates gospel, as cantoras de axé gospel e até — para vergonha nossa! — o “créu” gospel. Chega de baboseiras! Não fomos chamados a imitar o mundo e sim a transformá-lo (1Jo 2.15-17).

Em segundo lugar, há outro problema denominado associação. É possível que, ao participar de uma festa junina gospel, sejam feitas associações com o evento original, de origem e significado pagãos — queiramos ou não, festas juninas estão ligadas às crenças da ICAR. Cristãos sensíveis podem sentir um desconforto inexplicável diante disso. Visitantes interessados nas crenças e práticas evangélicas exigirão explicações mais detalhadas sobre as razões da realização de tal noite caipira “calvinista”.

Sendo assim, parece-me mais adequado considerar as festas juninas gospel entre aquelas coisas que o apóstolo Paulo chama de lícitas, mas inconvenientes e não-edificantes (1Co 10.23). Nessas questão, pensemos primeiramente nos interesses do corpo de Cristo, e não nos nossos (1Co 10.24). Não sou contra comer bolo de milho, ou canjica, ou pé-de-moleque. Gosto de batata-doce assada na brasa e me delicio com um bom curau e uma música caipira de raiz. Desfrutemos dessas coisas, porém, na privacidade de nossos lares ou fora do contexto de festas caipiras nos meses de junho e julho. Não porque tais iguarias sejam pecaminosas em si, mas para evitar associações indesejáveis.

Somos livres para participar de festas juninas? Não. Ao participarmos de tais festas, nos ligamos em idolatria. Devemos realizar eventos caipiras gospel? Devemos participar de tais eventos? Também não. Nesse segundo caso, não porque haja idolatria envolvida, mas porque há o perigo de associações indesejáveis. O ideal é que fortaleçamos nossa identidade cristã, bíblica e protestante, desvinculando-nos de qualquer aparência do mal (1Ts 5.22).

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Respostas

  1. Avatar de Deltra Maria Soares da Silva
    Deltra Maria Soares da Silva

    Sou superintendente da Escola Dominical de minha igreja ,este mês estaremos abordando na abertura da EBD o tema : Festas Juninas. Achei ótimo seu artigo. Concordo completamente com vc. O mundo tem influenciado mais a igreja com seus costumes do que a igreja o mundo com os seus. Tem-se dado o famoso jeitinho brasileiro à nossa fé.
    Deus te abençõe,
    Deltra

  2. Avatar de Alan O. dos Santos
    Alan O. dos Santos

    vlw pelo esclarecimento (Y)

  3. Avatar de Evelyn
    Evelyn

    A Paz do Senhor!!Estou no Japão fazendo a obra do Senhor por 14 anos e logo que me converti,entendi a palavra de deixar o velho homem e ser uma nova criatura,e hoje tenho visto que tantas igrejas tem deixado que a tradição pagã entre e faça a festa,e infelizmente muitos tem caido e feito as festas,até mesmo aqui no Japão existem igrejas que fazem discoteca,forro,dança de salão,festa junina,etc…se assemelhando com as coisas desse mundo,ao invés dos cristãos influenciar o mundo,o mundo tem influenciado as igrejas,por isso nós que sabemos da verdade devemos guardar em nosso coração para não pecarmos contra o Senhor,pois os dias da vinda de Cristo está próxima e devemos estar preparados para subir com ELE.
    Que possamos permanecer firmes na ROCHA que é JESUS!!!!

  4. Avatar de Maria
    Maria

    Olá!
    {Antes de qualquer coisa meu objetivo é apenas uma troca de idéias, com BASE BÍBLICA queria saber outras opinioes}.

    É a primeira vez que acesso esse site e pra ser sincera te achei um tanto radical (vale ressaltar que so li essa postagem), porque pensar que NÃO podemos IMITAR o mundo é muito alienado. Vivemos NO mundo e de uma forma direta ou não, somos INFLUENCIADOS por ele: nossas roupas (eu sigo tendencias em relaçao a moda, contanto que fique bem em mim e que me sinta confortavel com o que uso. Vc deve ser pastor e usa todos os domingos um traje “imposto” pela maioria da sociedade evangelica), nossos cabelos (vc, por exemplo, usa um corte TRADICIONALMENTE masculino), nossas casas (cada vez mais tecnológicas) e a lista é extensa. Logo quando somos influenciados estamos imitando.
    Mas o que quero escrever nao é sobre isso, mas sobre a posição da Igreja que frequento em relaçao a festividades juninas. Todos os anos temos uma festa chamada FESTA DA COLHEITA com trajes caipiras, comidas típicas, arraiá, bricandeiras, músicas e decoração junina.
    Essa festa da Colheita tenta imitar alguns motivos da FESTA DE PENTECOSTES.
    A festa de pentecostes era a quarta festa anual dos judeus e era chamada de festa da colheita do trigo ÊXODO 23:16, que deveria ser oferecida EM GRATIDÃO a Deus pelos frutos colhidos.
    A festa da colheita dos judeus nos revela que o povo de Deus de fato era um povo que TINHA MOTIVOS PARA FESTEJAR, e fazia isso orientado por Ele.
    Nos espelhando no Pentecostes, nossa festa da colheita é uma entrega de nossos projetos, capacidades e corações para servir ao Senhor com mais vigor, renovando nosso compromisso de fidelidade a Ele e sua vontade nas nossas vidas.

    Diante disso, qual sua posição?
    Essa festa tradicional, que imita valores, mas que é voltada para Deus não deve ser praticada?
    O que há de errado com uma festa assim? É inconveniente e não traz edificação??

    Que Deus o abençoe.

    1. Avatar de admin
      admin

      Prezada Maria;
      Não critico a festa praticada em sua igreja. Entendo que cada comunidade deve estabelecer sua própria agenda ordenada pela “luz da natureza e pela prudência cristã, segundo as regras das Escrituras, que sempre devem ser observadas” (Confissão de Fé de Westminster, I.VI). Como cristão reformado não posso defender o postulado do cristão alienado da cultura. No entanto, penso que cada ato tanto do cristão como indivíduo como da Igreja precisa considerar o imperativo do testemunho, especificamente do “não causar escândalo”. Se a prática de sua igreja é ordenada biblicamente e fortalece o testemunho do evangelho, não há problemas.

  5. Avatar de José Roberto da Silva
    José Roberto da Silva

    Olá, valeu gostei muito da forma inteligente e Cristã que tal assunto foi abordado, acrescento que estamos vivendo os últimos tempos e que devemos nos desvencilhar de qualquer comportamento que manche nossa chamada, segundo a própria escritua que diz ” quer comamos, quer bebamos façamos tudo para glória daquele que nos chamou “.E pertinente uma igreja estar preocupada em realizar eventos sociais para seus membros, desde que o fim seja a Glória daquEle que nos chamou, e não para fazer cócegas na alma dos participantes. Abraços, parabens. valeu de fato.

  6. Avatar de erica
    erica

    Amado irmão concordo plenamente com vc e para minha tristeza líderes da denominação a que pertenço têm feito isso.É só abrir o youtube e ver “Arraiá dos propósitos”. Meu Deus onde vamos parar com tanta coisa ruim entrando na igreja. Alguns líderes não se importam em escandalizar o Corpo de Cristo contanto que obtenham lucro e aumentem a arrecadação de suas igrejas.Que Pena! E que Deus tenha misericórdia de nós.Abraços e fique na Paz..

  7. Avatar de Luciano
    Luciano

    Olá, Misael. Entendo o seu esforço pela busca de um padrão para o comportamento cristão. Entretanto, Jesus era muito mais radical e com visão bem mais ampla do que o simples negar ou deixar de fazer algo. Por exemplo: Jesus foi a festas, falou com prostitutas, corruptos, leprosos e autoridades. Creio que precisamos considerar o exemplo de Jesus.

    Mas vamos aos seus argumentos sobre a festa junina.

    1) Primeiro, porque o evangelicalismo está ficando saturado de versões gospel de tudo: Bem, Jesus foi a festas e não criou nenhuma festa gospel. Engraçado que nas festas Jesus fez diferença na vida dos tais “doentes” para os quais Ele veio. Concordo com você, chega de baboseira gospel. Sejamos servos de Cristo onde quer que estejamos, ao invés de ficarmos iludidos com falsos bolsões de santidade criados pelo nome gospel.

    2) Em segundo lugar, há outro problema denominado associação… Os cristãos folgam em feriados católicos, moram em cidades com nome de santos, como São Paulo. Ou mesmo torcem para o São Paulo. Moram em um país com padroeira católica. Ou seja, eles vivem no mundo. Aliás, Cristo pediu para que não fôssemos tirados do mundo. No entanto, você apresentou uma sugestão de isolamento bem estranha. Você propõe que fiquemos escondidos dentro de casa, caso queiramos comer alguma das guloseimas encontradas nas festas juninas. E o motivo para nos escondermos seria o medo de criarmos uma conexão não desejada com o mundo espiritual. Chocante!!! Fiquei imaginando Jesus, falando as seguintes palavras “Cuidado, vocês poderão criar associações indesejadas com o mundo espiritual e eu não poderei fazer nada por vocês. O poder do sangue derramado na cruz não é páreo para essas poderosas associações”. A teologia do medo nos afasta das maravilhas do evangelho. Nos escraviza. Nos faz crer em um “deus” fraco, ao invés de termos a convicção que servimos ao Deus Todo-Poderoso e que devemos nos submeter a Ele e não a crendices ou ao temor de perigosas associações indesejadas.

    Fiquei imaginando Jesus na Festa junina e sendo informado que o quentão acabou…. ou Paulo, conversando com as pessoas na festa junina “Vejo que em tudo sois religiosos. Que bom, vocês celebram a devoção de São João e São Pedro. Vocês conhecem qual o propósito da vida de São João? Vocês conhecem o chefe do São Pedro? Pois, vou lhes contar sobre Quem os inspirava. Aquele capaz de transformar vidas e de vencer as associações espirituais indesejadas”.

    O ideal é que fortaleçamos nossa identidade cristã, bíblica e protestante, desvinculando-nos de qualquer aparência do mal.

    Concordo com você, devemos fortalecer nossa identidade cristã. Prefiro ser reconhecido pelas coisas que eu faço do que pelas coisas que não faço. Ou seja, creio que nosso desafio é nos esforçar por viver uma vida cristã em todas a situações e lugares. Lutar para me manter humilde, perdoar, buscar a presença de Cristo, reconhecer e arrepender dos pecados, e contar diariamente com o perdão de Cristo.

    Encerro com uma pergunta. Escravizar, por meio do medo em associações indesejadas, pessoas que foram libertas pelo poderoso sacrifício de Jesus não seria uma forma de mal?

    Te desejo um mês de julho feliz e abençoado. Que você possa comer um bolo de milho na alegria e na convicção que o Deus Todo Poderoso te libertou da escravidão do pecado para ser luz aonde quer que você esteja e para viver publicamente as coisas para as quais Cristo te libertou.

    Em Cristo.

    Luciano

  8. Avatar de Misael
    Misael

    Prezado Luciano;

    Concordo que o evangelho liberta e nos torna semelhantes ao Senhor Jesus. Parece-me que o apóstolo Paulo foi quem mais compreendeu esta liberdade (Gl 5.1). Nesses termos, todo legalismo é contrário a Cristo e deve ser prontamente repudiado (Gl 5.2-6).

    Entenda que eu não proponho “que fiquemos escondidos dentro de casa, caso queiramos comer alguma das guloseimas encontradas nas festas juninas”. Muito menos que abandonemos as cidades em que moramos se estas tiverem nomes de santos (se bem que tenho fortes argumentos para que alguém deixe de torcer pelo São Paulo Futebol Clube). Eu proponho que, positivamente, façamos tudo o que contribua para a honra de Deus e a propagação do evangelho. Eu proponho ainda que, a fim de fortalecer o testemunho, evitemos o que provoca escândalos ou celeumas desnecessários. Isso não sou eu quem ensino, mas Paulo (Rm 16.17-18; Tt 3.10-11).

    Note que o mesmo apóstolo que pregou a liberdade ensinou sobre o perigo de algumas associações: “Não vos ponhais em jugo desigual com os incrédulos; porquanto que sociedade pode haver entre a justiça e a iniquidade? Ou que comunhão, da luz com as trevas? Que harmonia, entre Cristo e o Maligno? Ou que união, do crente com o incrédulo?” (2Co 6.14).

    Não se trata de afirmar que “o poder do sangue derramado na cruz não é páreo para essas poderosas associações”. Nada disso. Muito menos de apregoar “um ‘deus’ fraco, ao invés de termos a convicção que servimos ao Deus Todo-Poderoso e que devemos nos submeter a Ele e não a crendices ou ao temor de perigosas associações indesejadas”. O que ocorre é que, tratando da cultura Babilônia com suas corrupções, diz-nos a voz celestial: “Retirai-vos dela, povo meu, para não serdes cúmplices em seus pecados e para não participardes dos seus flagelos” (Ap 18.4). Não se trata de teologia do medo e sim de obediência às instruções do Novo Testamento.

    Você imaginou “Jesus na Festa junina e sendo informado que o quentão acabou”. Boa sacada. O ponto é que não podemos comparar a sociedade judaica com a brasileira neste ponto. Jesus participou de festas, mas os casamentos e festejos judaicos não tinham nenhum vínculo com idolatria. Você divagou em sua imaginação. Isso pode gerar resultados ruins, teologicamente falando.

    Ademais, você também imaginou “Paulo conversando com as pessoas na festa junina: ‘Vejo que em tudo sois religiosos. Que bom, vocês celebram a devoção de São João e São Pedro. Vocês conhecem qual o propósito da vida de São João? Vocês conhecem o chefe do São Pedro? Pois, vou lhes contar sobre Quem os inspirava. Aquele capaz de transformar vidas e de vencer as associações espirituais indesejadas’”. Sua intenção é boa, mas suplico humildemente que reveja seu método. Paulo não é mostrado em nenhuma passagem do NT frequentando um evento idólatra. Ele nunca pregou dentro de um templo pagão ou participou de qualquer celebração do paganismo. Ele disse as célebres palavras “Em tudo vos vejo acentuadamente religiosos” (At 17.22) no Areópago, centro de debates públicos de Atenas. Ele até poderia dirigir-se a um católico romano iniciando sua abordagem evangelística com palavras semelhantes, mas ele faria isso em um contexto mais adequado ao testemunho.

    Prezado irmão, você disse: “prefiro ser reconhecido pelas coisas que eu faço do que pelas coisas que não faço.” Saiba que nós crentes, fortalecemos nossa identidade cristã sendo reconhecidos pelo que fazemos e também pelo que não fazemos. O Decálogo é cheio de “nãos”. Não há problema em assumirmos que a vida cristã possui proibições. É bíblico dizermos “eu não faço isso porque minha religião não permite”. Isso não é legalismo, mas fidelidade (Dn 1.8; 1Co 9.27).

    Você denominou minha sugestão de isolamento de “bem estranha” e “chocante”. Eu entendo isso. Pra ser sincero já ouvi muitas asserções semelhantes. Muitos me consideram esquisito por esta minha opinião e normalmente ouço a célebre declaração: “Tudo é sagrado, nada é profano; você é um maniqueísta tentando separar as coisas!” E então desfiam uma lista de rótulos. Então me lembro de Ezequiel 22.26: “Os seus sacerdotes transgridem a minha lei e profanam as minhas coisas santas; entre o santo e o profano, não fazem diferença, nem discernem o imundo do limpo e dos meus sábados escondem os olhos; e, assim, sou profanado no meio deles”. Entendo que, como pastor, devo auxiliar os que estão sob meus cuidados a discernir uma coisa da outra, de modo a fazer o que se deve e afastar-se do que for indevido. Pra ser sincero, gosto de me sentir incluído na promessa de Ezequiel 44.23: “A meu povo ensinarão a distinguir entre o santo e o profano e o farão discernir entre o imundo e o limpo”.

    Entenda que não desejo escravizar qualquer consciência. As consciências cristãs devem submeter-se unicamente às Escrituras. Concordo plenamente contigo que “nosso desafio é nos esforçar por viver uma vida cristã em todas a situações e lugares. Lutar para me manter humilde, perdoar, buscar a presença de Cristo, reconhecer e arrepender dos pecados, e contar diariamente com o perdão de Cristo”. Entenda, porém, que escrevo simplesmente da perspectiva de um pastor que deseja a paz, unidade e pureza da igreja. Não quero, como você afirmou, afastar nenhum cristão das “maravilhas do evangelho”, apenas das festas juninas. 😀

    Pra seu conhecimento, tanto em junho quanto em julho comi bolo de milho e canjica. No último domingo à noite, a igreja serviu um chá gostoso de gengibre (muito bom mesmo). Mas não realizei, na igreja em que pastoreio, nenhuma atividade que aludisse às festas juninas, nem incentivei nenhum dos membros a participar de “arraiais”. Sem nenhum legalismo e com alegria no coração, grato a Deus pelo evangelho que resgatou a um tão grande pecador, prossigo em minha jornada somente pela graça.

    A você também desejo um ótimo mês.

  9. Avatar de Ivonete Silva
    Ivonete Silva

    Oi pastor;
    Acho ótimo seu texto.
    Apesar de gostar bastante das comidas, e achar legal a dança da quadrilha, quando morava em Brasília (onde as festas juninas acontecem majoritariamente em igrejas católicas e tem o cunho religioso mais forte) eu de fato não participava, por compartilhar desses mesmos argumentos.
    Quando cheguei aqui em São Luís, percebi que as festas juninas tem um cunho um pouco diferente. O foco aqui é mais cultural, tudo baseado na cultura do Boi. Os arraiais acontecem por todo lado, porém é mais permeado de cultura (danças, apresentações teatrais, coreografias, pinturas). Eu achei muito diferente. Até as comidas são diferentes. Eu fui a um arraial de um órgão jurídico pra ver como era e pouco vi alusões religiosas, ou comidas sacirficadas. Me esposo detesta arraiais, detesta bois, detesta comida de milho, enfim, só foi comigo pra eu ver como era. Eu gostei bastante e achei lindas as apresentações. O que dizer desse contexto?

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