Fevereiro de 2022. Eu estava ministrando os estudos do acampamento da igreja que oportunizaram o livro A luta cristã. A Bruna ligou dias antes, avisando que viria até São José do Rio Preto para nos apresentar o Ricardo, seu namorado.
Eu confesso que não sou um modelo de “pai espiritual”. Eu tenho essa tendência de considerar minhas filhas como sendo minhas, sendo que o mais correto seria, desde o início entender, afirmar e até ensinar a elas que elas pertencem ao Senhor e não a mim. Dito de outro modo, eu nunca recebi bem a notícia sobre um namorado de minhas filhas. Na primeira vez que isso aconteceu, eu fui até um amigo apenas para destilar, durante horas, a minha frustração, por minha filha mais velha iniciar um namoro. Desta outra vez, eu também sofri um bocado e isso explodiu em uma inflamação em um dedo do pé, mas entendi que era assim mesmo, que esta é a vida, e que eu teria de acolher bem e conhecer o “tal jovem”, chamado Ricardo.
Qual foi minha surpresa ao abrir a porta de minha casa, naquele feriado de fevereiro de 2022, e saber que o tal Ricardo não era apenas namorado, mas pedira a mão de minha filha em casamento durante a viagem! E ele me pediu, solenemente, para que eu concedesse a ele a Bruna, como noiva. Foi assim que eu, preletor de estudos sobre a luta cristã, enfrentei grande luta em meu interior. Daí, eu e Mirian dissemos “sim” ao pedido daquele rapaz que nos pareceu honesto, trabalhador e realmente disposto a amar a nossa filha.
Passaram-se alguns meses, e, em maio do mesmo ano, eis que a Bruna chegou em casa com o Ricardo, informando que ambos se casariam em julho do mesmo ano! Eu pensei que morreria e, para a Miriam, o choque pareceu ainda maior. O fato é que, em 2017, eu distribuí aos presbíteros de meu Conselho e recomendei, para os membros da IPB Rio Preto, o livro O que ele deve ser… se quiser casar com a minha filha, de Voddie Baucham Jr. Eu de fato me identifiquei com aquele pastor, pai de muitas filhas, e confesso que me confundi, enxergando no Pr. Voddie uma representação de Jesus, decidindo autoritativamente com quem suas filhas se casariam. Eu me esqueci de que, em primeiro lugar, o Pr. Voddie não é Jesus Cristo e, ademais, minhas filhas não foram criadas na cultura patriarcal de Lusaka, Zâmbia. Fui forçado a ponderar no fato de que Jesus Cristo, Rei dos reis e Senhor dos senhores, tem de lidar diuturnamente comigo, que insisto em tomar decisões que nem sempre combinam com aquilo que ele prescreve.
Trocando em miúdos, eu e Mirian entendemos que se Deus é soberano sobre todas as coisas e tínhamos de colocar nossos corações nas mãos dele com gratidão por sua soberania. Mas saibam que eu e só cheguei a esta conclusão graças a dois irmãos, presbíteros Gandolfi e Henrique, além do Conselho de minha igreja que, como não me canso de dizer, sabe o significado da expressão “somente pela graça”. Eu e Mirian percebemos que, a partir daquele momento, tínhamos de ajudar nas providências para o casamento, que aconteceria em apenas dois meses.
Em julho, Bruna e Ricardo se casaram. Naquela ocasião conhecemos os pais do Ricardo, Robert e Maria Ana, além de sua irmã e primos, pessoas por demais agradáveis, gente de bem com excelentes princípios e pais que criaram bons filhos. Daí, descansamos em Deus pela vida do Ricardo e pelo casamento dele com Bruna. Agradeço ao Senhor pelo modo como ele demonstra amor, respeito e cuidado por minha filha.
Tudo foi muito simples, o casamento civil foi realizado em 15 de julho e o religioso no dia seguinte, 16 de julho, em um restaurante de Brasília. Talvez por conta das experiências do casamento de minha filha mais velha, Carol, eu tenha conseguido pregar sem chorar, mas o fato é que chorei muito antes e depois e tanto Bruna quanto Ricardo choraram de montão. As pessoas presentes no restaurante gostaram da mensagem, baseada em Cânticos 2.1-3, e os pais do Ricardo também disseram o quanto o sermão tocou os seus corações e a religião cristã fazia sentido para eles.
Enfim, minha filha caçula se casou! “Este é o dia que o Senhor fez; regozijemo-nos e alegremo-nos nele. Oh! Salva-nos, Senhor, nós te pedimos; oh! Senhor, concede-nos prosperidade!” (Sl 118.24-25).
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