Definição, centro e método da Teologia Pastoral

— por

Aula ministrada na Faculdade Teológica Cristã do Brasil, no (2º sem. 2004).

A definição de Teologia Pastoral

Thomas C. Oden[1] define a Teologia Pastoral como o ramo da Teologia Cristã que define, de forma sistemática, o ofício, serviços, dons e tarefas do ministério. A Teologia Pastoral é considerada uma teologia prática por tratar de aspectos práticos do ministério vinculando a exegese, história, teologia sistemática, ética e ciências sociais.

Teologia Pastoral é uma disciplina tanto teórica quanto prática. Na Teologia Pastoral articula-se um construto teórico do ministério proveniente da Escritura, da História e da Teologia Sistemática.

A Teologia Pastoral objetiva não apenas elaborar uma definição do trabalho e tarefas pastorais, mas prover auxílio prático para sua implementação. Em um primeiro momento, a Teologia Pastoral providencia informação bíblica e suporte teológico acerca do ministério. Em seguida, fomenta a prática do ministério na igreja.

Argumenta-se que o ministério só é aprendido na prática, porém, na Bíblia Deus fornece informações sobre o ministério, possibilitando uma investigação sistemática que orienta uma prática ministerial consistente com os propósitos divinos.

A Teologia Pastoral e o ministério da Palavra

A Teologia Pastoral envolve uma visão compreensiva e abrangente das implicações do ministério da Palavra. A distinção entre a tarefa da pregação e os outros elementos do ministério é mais fluida do que parece, há uma estreita relação entre a Teologia do cuidado pastoral e a proclamação da palavra. Como Teologia Prática, a Teologia Pastoral é uma Teologia da Palavra.

A Teologia Histórica se preocupa em coletar, através da exegese, os dados da palavra que Deus falou através dos profetas e apóstolos. A partir de então, ela verifica como tais dados foram compreendidos e aplicados na vida da comunidade cristã, no decorrer dos séculos.[2]

Embora a Teologia de cuidado pastoral não esteja alicerçada na Teologia Sistemática, trata-se de uma Teologia da Palavra. Thurneysen demonstra que comunidades cristãs foram estabelecidas como resultado da verdadeira pregação da Palavra e da correta administração dos sacramentos. A comunidade cristã desde os primórdios necessitou dos cuidados pastorais.

Não existe conflito necessário entre cuidado pastoral individual e ministério público. Thurneysen argumenta que o pastoreio amoroso não substitui a pregação e os sacramentos, pelo contrário, tais práticas se fortalecem mutuamente. Calvino, por exemplo, considerava a visitação nos lares, realizada pelo pastor e presbíteros como uma extensão da pregação. O pastoreio estende a pregação na forma de conversa e ministração individual.[3]

Thurneysen argumenta que o pastoreio foi proeminente durante o movimento pietista. Os pregadores se responsabilizavam não apenas para falar publicamente, mas também individualmente a cada membro da congregação. Thurneysen acredita que, de acordo com Calvino e Lutero, o estabelecimento de cada igreja exige a pregação da Palavra, a administração dos sacramentos e o cuidado pastoral no ensino individual das Escrituras. É nesse contexto que ocorre a prática da disciplina eclesiástica.[4] A disciplina é necessária para a ordem da igreja, como aplicação atual da palavra e dos sacramentos. Para Calvino, a participação na comunidade implica na abertura para a admoestação pessoal como forma de mortificação do pecado e crescimento na nova vida.[5] Calvino compreendia a pregação do evangelho como a alma da igreja e a prática da disciplina como os ligamentos que conectam e unificam o corpo de Cristo.

O cuidado pastoral ocorre no âmbito na igreja. Ele procede e ao mesmo tempo segue a Palavra. Pressupõe ou objetiva a membresia no corpo de Cristo. Envolve o ofício da proclamação e outros deveres. O portador do ofício pastoral é um integrante do corpo de Cristo, alguém consciente de que não merece exercer tal função, mas que é apoiado pela congregação, que voluntariamente o acredita e recebe.[6]

Thurneysen afirma que um dos elementos necessários para o verdadeiro ministério é a compreensão correta acerca da natureza humana. O homem deve ser considerado como criado segundo a imagem de Deus, o que o distingue do restante da criação e o confirma como objeto especial do cuidado divino. Por outro lado, o homem é pecador. Thurneysen argumenta que o pastoreio é literalmente um agente de santificação do homem, resgatado do reino do pecado e da morte e levado ao reino da graça de Jesus Cristo.

Thurneysen argumenta que o cuidado pastoral envolve um tipo diferenciado de conversação que potencializa o trabalho do Espírito — uma conversação diferente do diálogo comum e também da pregação, baseada na autoridade da Palavra. Ele considera importante atentar para o modo de implementar o pastoreio. Inicia-se com uma relação de confiança e abertura de mente. Não há como pastorear uma pessoa da igreja sem disposição para ouvir e aplicar a Palavra de Deus. Thurneysen utiliza o exemplo de Natã confrontando Davi (2Sm 12), a fim de argumentar que em algumas ocasiões a conversação pastoral exigirá avaliação e julgamento. Um exemplo de conversação pastoral agradável é a mesa de refeições de Lutero. Outros bons exemplos encontram-se na literatura de Sabedoria, notadamente no livro de Provérbios, que revela uma compreensão aguçada da situação das pessoas, ao mesmo tempo em que oferece conselhos baseados nas Escrituras.

O cuidado pastoral sempre envolve riscos. O membro da igreja pode rejeitar a conversação ou o pastor. Outro risco é o da demonstração de incredulidade — o membro da igreja demonstra que não crê na necessidade de iluminação da Palavra para orientar a conversação. Ouvir é muito importante, tanto ao membro da igreja quanto à Palavra de Deus. O cuidado pastoral eficiente exige que sejam ouvidos ambos e que seja construída uma ponte entre as Escrituras e o aconselhando.

Thurneysen argumenta que o objetivo de toda conversação pastoral é o perdão dos pecados. Exatamente por isso um dos elementos do pastoreio é o encorajamento para que as pessoas confessem seus pecados. A confissão é facilitada pelo pregador, como dádiva divina prometida na Palavra de Deus. O pastoreio individual, porém, guia o cristão para o centro da Bíblia, que é Jesus Cristo.

O centro do ministério pastoral é a vida em Cristo

A vida em Cristo ocupa o lugar central em todas as ocupações do trabalho pastoral.

Oden argumenta que é necessário enxergar os diferentes papéis daqueles que se ocupam com o pastoreio e os outros membros da igreja. A noção da vocação para um ofício especial é crucial para a compreensão de como ajudar as pessoas a viverem focalizadas em Cristo. O pastor pode orientar-se pelas ideias que outras pessoas possuem sobre a Escritura, Teologia ou tradição. Ele ainda pode se tornar um conselheiro profissional — alguém que aconselha em busca de remuneração. O oferecimento de serviços remunerados é completamente incompatível com o ministério.

A vida do ministro é centrada em Cristo, orientada unicamente para o encaminhamento de todas as pessoas da igreja para a vivência de existências cristocêntricas. O pastor é responsável por tentar mover os irmãos para a vida centrada em Cristo.

O método da Teologia Pastoral

A Teologia Pastoral utiliza a Teologia bíblica, a tradição, a experiência e o bom senso (a razão iluminada pelas Escrituras).

A Teologia Pastoral busca a melhor compreensão exegética, analisa as formulações tradicionais da Teologia, compreendendo que o Espírito Santo tem dirigido a igreja através dos séculos. Ela reflete sobre os contextos e os desenvolvimentos históricos e relaciona os dados obtidos com as formulações pertinentes das ciências sociais.

A Teologia Pastoral busca compreender, julgar e aplicar com equilíbrio aquilo que foi crido e aceito sempre, por toda a igreja fiel às Escrituras.

Os que desejam desenvolver uma Teologia Pastoral devem atentar para o aspecto funcional do ministério. A igreja é de Deus Pai, comprada com o sangue de Cristo e governada pelo Espírito Santo, que guia através da Palavra. Deus ordenou que este organismo seja conduzido e abençoado pelo ministério pastoral.

Tradução e adaptação livre das Lecture Notes, Theology of Ministry Seminar, do Dr. Alan Curry, professor do Reformed Theological Seminary (RTS). Utilizada no curso de Doutorado em Ministério do Centro de Pós-Graduação Andrew Jumper (CPAJ), p. 8-13.

Notas

[1] ODEN, Thomas. Pastoral Theology: Essentials of Ministry. New York, HarperCollins, 1983.

[2] THURNEYSEN, E. A Theology of Pastoral Care. John Knox Press, 1962, p. 11.

[3] THURNEYSEN, op. cit., p. 16.

[4] Como disciplina eclesiástica, entenda-se não apenas o ato de corrigir publicamente o irmão cuja atitude ou comportamento provoca escândalo, mas a prática cotidiana do pastoreio individual, que exorta e corrige a partir das injunções de Mateus 18.15-20; Hebreus 10.23-25; Tiago 5.13-20.

[5] THURNEYSEN, op. cit., p. 37.

[6] Ibid., p. 53.

Referências bibliográficas

ODEN, Thomas. Pastoral theology: essentials of ministry. New York, HarperCollins, 1983.

THURNEYSEN, E. A Theology of Pastoral Care. John Knox Press, 1962.

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Respostas

  1. Avatar de Misael Testando Comentário 2
    Misael Testando Comentário 2

    Testando comentário

    1. Avatar de Misael
      Misael

      Tudo OK novamente. Próximos de lançar o novo site.

  2. Avatar de Claudia maria de medeiros.
    Claudia maria de medeiros.

    Salmos 37. Com certeza a mente de Cristo vai ajudar-nos a ser aquela obreira que maneja be a Palavra da verdade, corrigindo com amor e sabedoria de Deus. Não julgueis para não serem julgados.

  3. Avatar de Claudia maria de medeiros.
    Claudia maria de medeiros.

    Com certeza devemos buscar ter a mente de cristo em todos relacionamentos e quanto a palavra de mateus 18.Deus corrige aquele que ama.confessar somente a Deus seu pecado e o advogado fiel jesus cristo .

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