Jacó foi abençoado no vau de Jaboque, mas ficou manco: “Nasceu-lhe o sol, quando ele atravessava Peniel; e manquejava de uma coxa” (Gn 32.31). Agora ele era Israel, homem pronto a reencontrar seu irmão e dar continuidade à descendência da promessa. Manco e abençoado; pronto pra servir.
Não há vida cristã sem experiências similares a esta, encontro com Deus em situações adversas; embate violento; Deus vencendo e nos marcando indelevelmente. Há uma certa doçura nessas lesões; em tais casos, a graça se encontra na ferida e não na cura. Frodo, o anti-herói de O Senhor dos Anéis, finalizou sua missão febril, confuso e cheio de lesões – algumas delas nunca mais se fecharam. Isso porque algumas úlceras só serão curadas na glória. Há nervos que permanecerão tensionados enquanto aqui estivermos para que nos lembremos quem, de fato, somos – mancos dependentes da graça.
“Mas, irmão Misael, eu gostaria de ser plenamente restaurado; esquecer-me tanto do algoz quanto da tortura”. É no sofrimento infligido por tais experiências que aprendemos a lidar com as pessoas e com a vida perante Deus. Em cada pontada de dor, somos colocados diante das possibilidades de revide ou amor, destacar o tormento ou desfrutar da promessa do evangelho. Dada nossa inclinação ao orgulho, servir mancando é melhor. Concluo que, de fato, o deslocamento da junta da coxa de Jacó foi crucial para que ele fosse tornado Israel, o príncipe. Deus o coroou com um defeito – uma marca visível aos demais – a fim de conscientizá-lo de seu pecado e finitude.
No Novo Testamento, Paulo falou de umas “marcas de Jesus ” que ele trazia em seu corpo (Gl 6.17). Temos de mancar para bem servir.
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