Namoro com pessoas de fora da igreja

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Qual é a posição da Bíblia quanto ao namoro de cristãos com pessoas descrentes ou de outras religiões? Esta é uma das consultas mais frequentes em gabinetes pastorais. Uma vez que, via de regra, isso já foi perguntado ao pastor anterior, adolescentes, jovens e adultos insistem em levar a questão novamente ao novo ministro, como se não soubessem a resposta, quem sabe esperando ouvir uma resposta diferente.

Sendo assim, recebo constantemente a sugestão de realizar séries de estudos, ou, quem sabe, seminários sobre a temática. Em suma, transito entre suspiros de desencantados (gente entristecida por estar disponível na igreja, enquanto alguns crentes buscam pessoas “de fora”), escandalizados (os que estão estarrecidos diante da constatação de que há crentes namorando não crentes) e confusos (afinal de contas, existe uma orientação bíblica sobre o namoro cristão?).

Diante disso, afirmo três coisas. Primeiramente, a união amorosa entre crentes e não crentes não é recomenda pela Sagrada Escritura (2Co 6.14-18). Cest finit. Digo isso a todos os que me perguntam sobre o assunto.

Em segundo lugar, penso que, na maioria dos casos em que os cristãos assumem um relacionamento com uma pessoa descrente ou de outra religião, o que lhes falta não é informação, mas clareza de mente e submissão. A dificuldade está em obedecer mesmo, principalmente quando a inteligência está enevoada pela paixão. A teoria – o ensino sobre a pecaminosidade da relação mista – é mais do que conhecida. O difícil é praticar aquilo que é simples.

Daí surgem os argumentos. Alguns citam o caso de alguém que namorou nesses moldes, casou-se e hoje o cônjuge é um (ou uma) fiel discípulo(a) de Cristo. Multiplicam-se relatos de pessoas que vivem maravilhosamente bem, apesar das diferentes profissões de fé. E ainda há as clássicas afirmações de que “no meu caso é diferente – Deus está realizando sua obra na vida dele (ou dela)”; “tal pessoa é maravilhosa – crê em Deus e apoia minha fé, inclusive vem comigo à igreja todos os domingos” e “Deus está orientando todos os meus passos nesse relacionamento”. Destarte, a palavra objetiva da Escritura é deixada de lado e substituída por testemunhos de casos que “deram certo”. Com isso, sutilmente, as exceções são transformadas em modelos e regra.

Confirma-se que somos naturalmente inclinados a complicar aquilo que é simples. Racionalizamos, fingimos não ver a instrução clara e ainda pedimos que Deus ilumine, direcione e abençoe algo que ele já proibiu em sua Palavra, como se o Espírito Santo fosse nos dar alguma orientação contrária às Escrituras.

Nesse sentido, determino a minhas filhas que namorem somente crentes, e crentes presbiterianos convictos da fé reformada (é muito complicado manter o romantismo discutindo a todo momento sobre questões doutrinárias). Entendo que fui estabelecido como pai para “ordenar” minhas filhas e minha casa “a fim de que guardem o caminho do Senhor e pratiquem a justiça e o juízo” (Gn 18.19). Minha primogênita casou-se com o Jônathas, um jovem firme na sã doutrina. Minha caçula também tem seguido – pelo menos até agora – as orientações da Escritura. Digo isso sem um pingo de soberba, consciente de que isso tem sido assim somente pela graça.

Mas o que fazer com as pessoas que assumem tais namoros? Essa, caros leitores, é uma pergunta que seria respondida rapidinho numa sinagoga, mas que exige elaboração em um ambiente cristão. Sugiro que comecemos orando por elas. Estamos diante de questões do coração e coisas assim devem ser trabalhadas pelo Espírito Santo, de dentro para fora. Não adianta amarrar ninguém ao “tronco”, no estilo do clássico Escrava Isaura. Não estamos no tempo da Inquisição nem podemos admitir o legalismo no seio da igreja. Precisamos ser bíblicos sem sermos farisaicos.

Com isso eu quero dizer, em terceiro lugar, que temos de respeitar nossos irmãos que namoram com pessoas de fora da igreja, enquanto os admoestamos educadamente (Gl 6.1). Mais ainda, é vital que acolhamos amorosamente os incrédulos e adeptos de outras religiões que acompanham seus namorados ou namoradas crentes. Sejamos graciosos e hospitaleiros, suplicando ao Senhor que os visite com salvação. E enquanto fazemos isso, permaneçamos firmes no ensino da Bíblia: Deus orienta o crente a unir-se somente com aqueles que professam e praticam a mesma crença evangélica.

Parece uma contradição? Sim, eu também acho. E quanto mais eu ando com o Senhor, vejo que os caminhos da ética cristã são cheios de bifurcações aparentemente confusas. Coisas como ter fome e sede de justiça ao mesmo tempo em que se perdoa o injusto, lutar contra os maus enquanto se ama o inimigo, amar a Deus enquanto o tememos, crer que tudo depende da sua graça enquanto trabalhamos com afinco. Santos paradoxos.

Surge outro complicador: Se eu sou contrário aos namoros mistos, por que é que eu rogo a bênção de Deus sobre o matrimônio de casais em que um dos noivos não é cristão? Será que eu estou sendo incoerente? Perceberam como a coisa complicou? Veja mais sobre isso no próximo post.

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