Nossas necessidades

— por

[…] a misericórdia, a paz e o amor vos sejam multiplicados (Jd 1.2).

Pregado na I. P. Central de São José do Rio Preto, em 10 de janeiro de 2010 [manhã]. Ceia do Senhor. Mensagem disponibilizada em formato escrito, tendo em vista problemas na gravação do áudio.

Depois de nos informar sobre quem somos, o autor desta carta nos ensina sobre nossas verdadeiras necessidades. Há uma diferença entre necessidades sentidas e necessidades reais. Grande parte da frustração humana decorre da tristeza por não serem satisfeitas as necessidades sentidas. Aprendemos sobre isso no livro de Provérbios e na primeira carta de Paulo a Timóteo:

Tal é a sorte de todo ganancioso; e este espírito de ganância tira a vida de quem o possui (Pv 1.19).

O cobiçoso levanta contendas, mas o que confia no SENHOR prosperará (Pv 28.25).

A sanguessuga tem duas filhas, a saber: Dá, Dá. Há três coisas que nunca se fartam, sim, quatro que não dizem: Basta!
(Pv 30.15).

De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento (1Tm 6.6).

Todas as nossas necessidades reais são atendidas por Deus (Sl 23.1 et seq.;
Fp 4.19). Uma das chaves da vida cristã é compreender e, na dependência e poder do Espírito, viver à luz desta verdade.

Estamos diante de coisas tão fundamentais que o autor inspirado, ao referir-se a elas, desejou não apenas de que elas nos sejam dadas, mas, também, “crescidas” ou “multiplicadas”. É como se ele dissesse: — todas estas coisas devem ser aumentadas mais e mais.

Quais são nossas necessidades, de acordo com este trecho da Palavra de Deus?

Primeiro, precisamos de multiplicação de misericórdia

[…] a misericórdia, a paz e o amor vos sejam multiplicados (Jd 1.2).

Judas nos fala sobre clemência e compaixão. Deus se revela a Moisés como “SENHOR, SENHOR Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade” (Êx 34.6). O apóstolo Paulo afirma que Deus é “rico em misericórdia” (Ef 2.4).

É por causa do trato misericordioso de Deus que estamos aqui hoje: “22 As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; 23 renovam-se cada manhã. Grande é a tua fidelidade” (Lm 3.22-23).

Ademais, a dispensação da misericórdia divina é soberana: “terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia e me compadecerei de quem eu me compadecer”, diz o SENHOR em Êxodo 33.19.

Sendo assim, Deus nos convoca a nos aproximarmos do seu “trono da graça, a fim de” recebê-la (Hb 4.16), e por causa desta misericórdia, glorificamos a Deus (Rm 15.9).

A misericórdia aponta para o seguinte fato: por nossos merecimentos não atingimos o perfeito padrão de justiça de Deus. Até nossas melhores obras, diante dele, são como panos sujos (Is 64.6). Deus se condói de nossa situação e por meio de Jesus nos alcança e acolhe. Por um lado ele nos cobre com a justiça perfeita de Jesus e, por outro, perdoa nossos pecados por causa do sangue derramado por Jesus na cruz. Em determinado momento de nossa história ele nos chama — as boas notícias acerca de Jesus fazem sentido pra nós e somos transformados. Isso é o evangelho.

Você já conhece a misericórdia de Deus? Seu coração já foi alcançado por ela? Ore para que Deus cubra sua vida com misericórdia multiplicada. Essa é nossa primeira necessidade.

Segundo, precisamos de multiplicação de paz

[…] a misericórdia, a paz e o amor vos sejam multiplicados (Jd 1.2).

Paz, para o judeu é shalom — bem-estar integral. O termo utilizado no NT é a base para um nome usado no Brasil: Irene. Essa paz paz bíblica não equivale a ausência de conflitos. A paz segundo Deus é tranquilidade sustentada por fé. Trata-se do estado de alma descrito no Salmo 27.3: “Ainda que um exército se acampe contra mim, não se atemorizará o meu coração; e, se estourar contra mim a guerra, ainda assim terei confiança”.

Não se trata de mero conforto psicológico, mas decorre de um acerto na nossa relação com Deus por meio do sacrifício de Jesus Cristo — uma reconciliação (cf. Rm 5.1, 6, 9-11).

Precisamos da paz do Senhor todos os dias. Carecemos de ser pacificados internamente. Naturalmente estremecemos por dentro; somos tomados por ondas de ansiedade que nada mais são do que sintomas de fraqueza na fé; olhamos pra dentro de nós e encontramos tumulto; grandes batalhas têm lugar em nossas almas. Daí a promessa do Senhor Jesus: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize”
(Jo 14.27).

Carecemos de ser pacificados em nosso trato mútuo. É fácil perturbar nossos relacionamentos uns com os outros. Uma palavra que colocamos indevidamente; uma expressão facial ou corporal inadequada; o simples fato de acordarmos de mal humor e as inclinações de nossa personalidade — tudo isso tem o potencial de corroer um casamento, a ligação entre pais e filhos, as amizades e nosso vínculo uns com os outros na igreja. Por isso precisamos de multiplicação da paz — diariamente.

Você já conhece a paz de Deus? Já foi alcançado por ela? Ore para que Deus pacifique a sua alma e entenda que só desfruta da paz que desfruta, também, da misericórdia. A paz de Deus operando em nossos corações é nossa segunda necessidade.

Terceiro, precisamos de multiplicação de amor

[…] a misericórdia, a paz e o amor vos sejam multiplicados (Jd 1.2).

Fechando a lista tripla fornecida por Judas, temos o amor. De certo modo já fiz referência ao amor na semana passada, ao explicar o significado de “amados em Deus Pai”, em Judas 1.1. Por ora basta afirmar que Deus nos criou e, por isso, sabe não apenas quem somos, mas, também, do que necessitamos. Ele nos criou, primeiro, para sermos por ele amados (como afirmava Agostinho). E ele nos criou para amar. Ser amado por Deus e amar são os dois lados de uma mesma moeda — a moeda da saúde espiritual, mental-emocional e física. Se desconsiderarmos um desses aspectos do amor, adoecemos. Por isso o evangelho — a espantosa declaração que Deus ama aos seus inimigos; e ama ao ponto de entrar na história, tornar-se ser humano, assumir humilhação, sofrimento e morte — tudo isso a fim de salvar, redimir, curar e libertar.

E por isso Judas 1.2. Precisamos não apenas de uma consciência do amor de Deus na conversão, mas de multiplicação desse amor diariamente. Não que o amor infinito de Deus possa ser multiplicado, mas o desfrute do amor sim. Dia após dia precisamos ser confirmados nesse amor infinito, pleno e incondicional.

Você já conhece o amor de Deus? Já foi alcançado por ele? Ore para que Deus inunde sua alma com o seu amor e compreenda que, de fato, a bênção de Judas 1.2 é tripla: Deus é poderoso para conceder a você multiplicação de misericórdia, paz e amor. Essas três coisas são nossas maiores e mais profundas necessidades.

Conclusão

Abandonemos as ilusões. Entendamos que nossas três maiores necessidades são misericórdia, paz e amor — tudo isso fornecido a nós por “Deus Pai” e “Jesus Cristo” (v. 1).

O texto nos ajuda a compreender o que é o Cristianismo. Muito mais do que uma religião institucionalizada, trata-se de um anúncio — um convite aos seres humanos pecadores para que estes conheçam e desfrutem da misericórdia, da paz e do amor de Deus por meio de Jesus Cristo. Mais: trata-se também de uma prática, de um estilo de vida. O que se estabelece com relação a Deus vale para todos os outros relacionamentos. É impossível relacionarmo-nos uns com os os outros com base em performance.

Abraham Maslow (1908-1970), psicólogo norte-americano, sugeriu que o ser humano funciona atentando para uma escala de necessidades. Ao serem atendidas as necessidades mais básicas de uma pessoa, esta passa a sentir novas necessidades mais sofisticadas. De acordo com a Bíblia, nossas necessidades fundamentais não são as materiais, ainda que devamos nos empenhar por atender às carências materiais do homem. Temos de receber e dar misericórdia (cf. Mt 5.7), cuja prática é um dos preceitos mais importantes da lei (Mt 23.23). Temos de receber paz e trabalhar pela paz (cf. Mt 5.9). Temos de receber amor e amar (cf. Jo 13.35).

Quais são as implicações destas necessidades para a vida prática da igreja? Que tipo de igreja desejamos ser? Fico feliz por encontrar em nossa declaração de missão a frase “sermos uma família de discípulos”. A palavra família denota uma comunidade que vivencia misericórdia, paz e amor verdadeiros. Isso deve ser assim para que nos livremos da ameaça do legalismo. Entendamos que, nesta passagem, a Escritura nos convoca a desfrutar de uma bênção singular. Na verdade, todos os três termos usados por Judas podem ser empacotados em uma só palavra: “graça”.

É tua graça que liberta, é tua graça que me cura
É tua graça que sustenta a minha vida.
Por teu sangue tenho acesso à tua graça preciosa.
Te louvo, te amo, Jesus.
Tua graça é melhor que a vida, tua graça é o que me basta.
Favor imerecido do céu, do céu pra mim.
Cântico É Tua Graça, de Luciana Manhâes e Tarcísio Barbosa

É a partir desse entendimento que participamos, nesta manhã, do bendito sacramento. A Ceia é mesa da família cristã.

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Respostas

  1. Avatar de Michele
    Michele

    Acho tão dificil aceitar que nem tudo que eu necessito é realmente uma necessidade real.
    Todos os dias temos que reler nossa listinha de necessidades reais para não ficamos tão ansiosos com o dia que virá.

    otima mensagem!!!

  2. Avatar de Rita Rocchi
    Rita Rocchi

    Como é bom sermos lembrados da multiplicação dessas bênçãos em nossas vidas: misericórdia, paz e amor. Se conhecêssemos a dimensâo dessas bênçãos, com certeza viveríamos dias melhores. Deus continue te usando para propagar as maravilhas de Deus.

  3. Avatar de admin
    admin

    Prezadas Michele e Rita;

    A ambas misericórdia, paz e amor. É bom demais tê-las por aqui, conferindo o blog! Abraços no Thiago e Alain.

  4. Avatar de jocemar dos santos zevedo
    jocemar dos santos zevedo

    Olá, é muito bom quando nós entregamos a nossa vida a Deus para ele nos usar. Faça sempre a vontade de Deus e ele te abençoará. Amém.

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