O Natal é uma festa pagã?

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[karma_builder_dropcap color=”golden” style=”round” dropcap=”O”] dia 25 de dezembro era utilizado, pelos pagãos, para festejar “o nascimento do sol” como “o acontecimento mais importante da terra”.[1] As cores dos enfeites e arranjos natalinos (vermelho e verde), remontam a estas celebrações. Alguns cristãos da Europa ornavam suas casas com pinheiros, baseados em “descrições de florescimentos de árvores no dia do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo”.[2] O uso natalino desta árvore começou na Alemanha, por volta do 16º século e chegou à Inglaterra, França, Estados Unidos e Porto Rico, a partir do século 19, tornando-se tradição na Espanha e América Latina, no século 20. Os relatos mais antigos, porém, remontam ao 2º e 3º milênios antes de Cristo, quando consideram tais árvores “expressão da energia da fertilidade da Mãe Natureza”[3] e representação da “Árvore Sefirótica” ou cabalística. O pinheiro, como dizem, simbolizava a era aquariana e os enfeites, tais como sininhos, anjinhos, bolas e bengalas, respectivamente, as forças primárias do cosmos, os espíritos angélicos santificados, os “doze” salvadores (!) e as sete kundalis, que devem ser trabalhadas para encarnarmos os “nossos poderes que divinizam”.[4] A igreja, sob influência de Constantino, rebatizou e “cristianizou” estes e outros costumes pagãos, consolidando a hegemonia do Cristianismo sobre os povos conquistados.[/karma_builder_dropcap]

Junte-se a isso a exploração comercial: Presentear, comprar, comer pernil, chester e peru e receber (e gastar) o 13º salário. Jesus Cristo, nascido em um estábulo de Belém? Não há tempo para lembrar-se dele! Basta o comércio alimentado por uma ideia difusa de fraternidade. Tudo bem que se pense em Papai Noel e seus duendes, distribuindo pacotes pelas chaminés, cruzando os céus com seu trenó puxado por renas voadoras. A “velha história” do evangelho não parece empolgante ao homem contemporâneo, místico e, ao mesmo tempo, secularizado.

Aí estão alguns fatos sobre o Natal cristão; terríveis revelações que podem escandalizar e, até mesmo, afastar alguns dos festejos natalinos. Se a data é ligada a origens pagãs, dizem, o melhor é riscá-la de nossas agendas. E se a coisa é tão séria, nada de árvores, velas ou guirlandas. Se há exploração comercial, concentremo-nos apenas nas coisas “espirituais”. Que o Natal seja banido, pois buscamos a santificação!

Os cristãos bíblicos e reformados examinam todas as coisas a partir da tríade Criação-Queda-Redenção. Ainda que reconheçamos que, em sua dimensão pecaminosa, “o mundo jaz no maligno” (1Jo 5.19), por outro lado, declaramos também nossa crença em Deus como Criador (portanto, Senhor da Providência) e Redentor. Pelo menos para os que abraçam o Calvinismo Holandês, Deus abençoa a cultura com sua graça comum. Destarte, calvinistas da graça comum assumem que nem todas as crenças e práticas do paganismo são, necessariamente, danosas para o discipulado cristão.

Explicando de outro modo, um crente evangélico típico, aficionado por batalha espiritual, pode ser contrário às cores azul, vermelho e ao próprio arco-íris, argumentando que o azul é a cor de Iansã ou Iemanjá, que o vermelho é a cor da Pomba-Gira, ou que o arco-íris é símbolo da Nova Era ou do Movimento LGBTT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros). Alguns até dirão que, ao usar tais cores (ou o arco-íris como símbolo), um crente coloca-se debaixo de opressão demoníaca ou maldição. O calvinista da graça comum, por outro lado, assume que o azul, o vermelho (e todas as cores existentes), bem como o arco-íris, foram criados por Deus (Gn 1.1—2.3; 9,12-16). Semelhantemente, Deus é Criador e Senhor dos anjos e dos pinheiros.

O Natal tem um sentido bíblico que precisa ser ensinado, aprendido, reafirmado e anunciado publicamente : “Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar aos que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos” (Gl 4.4). Deus se fez carne em Jesus Cristo; os anjos adoraram ao Senhor diante dos pastores; a cruz foi levantada e a porta do sepulcro foi aberta; os laços demoníacos foram quebrados; as cadeias do pecado foram despedaçadas; o acesso a Deus Pai foi aberto; as trevas foram dissipadas. Por causa do Filho de Deus que veio ao mundo, as pessoas podem ser salvas.

O pinheiro é pinheiro de Deus, os anjos afixados na árvore, podem significar qualquer coisa para os pagãos, mas, para os cristãos, relembram a “milícia celestial” que louvou a Deus dizendo “glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem” (Lc 2.13-14). Os sinos traduzem a ideia de anúncio alegre (de boas-novas), de convocação para a adoração. As bolas coloridas, o festejo pela chegada do Salvador. Quanto às bengalas doces, são aquelas coisas gostosas que as crianças disputam na noite de Natal mesmo; nada mais apropriado para representar a doçura do amor de Deus, que nos perdoa por graça.

Olhar para o que existe e verificar seu sentido cristão; revisar todas as coisas, sob a ótica da redenção; santificar tudo “em Cristo” (Pv 3.6; Cl 1.20). Eis uma boa prática cristã e evangélica que exigirá, certamente, que certas crenças e procedimentos sejam alterados e alinhados aos valores e afirmações da Escritura, mas, por outro lado, nos fará mais atentos à graça comum de Deus, que age em toda a criação, mesmo que indevidamente relatada pelo paganismo.

O apóstolo Paulo chegou a Atenas e encontrou um altar erigido ao “DEUS DESCONHECIDO”. Ao invés de demonizar o fato, enxergou, naquela crença pagã, uma excelente oportunidade para pregar sobre o Senhor Jesus Cristo (At 17.16-34). Que possamos fazer o mesmo, com alegria e intrepidez, em cada Natal.

Notas

[1] TORRENCE. Evelyn Levy. Solstício de Inverno: O Nascimento do Sol. Disponível em: <http://www.vivendodaluz.com/PT/articles/solsticio_de_inverno.html>. Acesso em: 14 dez. 2015.

[2]O Simbolismo da Árvore de Natal. In: GNOSIS ONLINE. Disponível em: . Acesso em: 14 dez. 2015.

[3]A Árvore de Natal. In: Wikipédia. Disponível em: . Acesso em: 14 dez. 2015.

[4]GNOSIS ONLINE. Op. cit., loc. cit.

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