O Verbo se fez carne (Agostinho)

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“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” (João 1.1).

Jesus, Maria e José

Ó mensagem gloriosa! Você busca por aquele que era antes? “No princípio era o Verbo”. Se o Verbo tivesse sido feito, a Escritura diria:“No princípio Deus criou o Verbo”, como é dito em Gênesis: “No princípio criou Deus os céus e a terra” (Gênesis 1.1). Deus não criou o Verbo no início porque, “no princípio era o Verbo”. Onde estava este Verbo? Ele “estava com Deus”. Como ouvimos palavras humanas diariamente, deixamos de pensar com clareza acerca deste vocábulo, “Verbo”, especialmente “o Verbo era Deus”. O mesmo que é o Verbo, “estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez” (João 1.2-3).

Ó Deus, abra os nossos corações! Ajuda-nos na pobreza de nossas palavras! Quem é capaz de expressar ou mesmo dar ouvidos ou meditar — quem pode compreender a Palavra habitando? O som de todas as nossas palavras passa. Quem pode compreender o Verbo permanente, senão aquele que permanece nele?

Você quer entender o Verbo eterno? Então não siga as coisas da carne. Na verdade, para a carne tudo é uma corrente, pois não tem permanência. Os homens nascem, vivem, morrem, como se fossem provenientes de uma espécie de fonte secreta. Não sabemos de onde eles vêm, nem para onde vão. É como se a fonte dessa água estivesse oculta, podemos vê-la em seu curso até desaparecer no mar. Desprezemos essa corrente que flui e desaparece: “[24] Pois toda carne é como a erva, e toda a sua glória, como a flor da erva; seca-se a erva, e cai a sua flor; [25] a palavra do Senhor, porém, permanece eternamente. Ora, esta é a palavra que vos foi evangelizada” (1Pedro 1.24-25).

Para nos socorrer, “o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (João 1.14). O que significa “o Verbo se fez carne”? O ouro tornou-se grama. Tornou-se grama para ser queimada, a erva foi queimada, mas o ouro permaneceu na grama; o ouro não perece; sim, ele mudou a grama. Como isso aconteceu? Ele levantou-se e assim ergueu-nos até o céu e colocou-nos na mão direita do Pai.

— Mas como – alguém dirá – como é que o Verbo de Deus, por quem o mundo é governado, por quem todas as coisas foram e são criadas, pôde contrair-se no ventre de uma virgem, deixou os anjos, e foi encerrado no ventre de uma mulher?

Você não é capaz de conceber as coisas divinas. O Verbo de Deus certamente pode fazer tudo, visto que ele é onipotente e, ao mesmo tempo, permanece com o Pai. Sim, ele veio até nós. Ele “era” antes de sua própria carne; ele criou sua própria mãe. Ele escolheu em quem seria concebido, ele criou aquela de quem seria criado. Você acha isso inacreditável? É de Deus que estamos falando: “o Verbo era Deus”.

Assim como minhas palavras me acompanham e são ouvidas em minha voz, o Verbo de Deus estava com o Pai, e veio em carne. Mas eu sou limitado; não possuo domínio completo nem de minha voz, nem de meu corpo. O Verbo de Deus, porém, não apenas determina que deve nascer, viver e agir, mas, mesmo quando morto, ele se levantou, exaltando a carne com a qual veio até nós.

Você pode considerar a carne de Cristo um “vestuário” ou “veículo”. Por último, como ele mesmo disse mais expressamente, você pode chamá-lo de “templo”. Este templo sabe que a morte não existe mais, pois reside na mão direita do Pai. Neste templo ele virá para julgar os vivos e os mortos. O que ele tem por preceito ensinado, por exemplo, ele tem manifestado. Em sua própria carne, ele mostrou que você deve colocar sua esperança nele. Esta é a fé: reter aquilo que ainda não vemos. Temos de crer desta forma, firmando-nos naquilo que não pode ser ainda visto, para que quando o vejamos, não nos envergonhemos. Amém.

Adaptado por Nancy Guthrie, de St. Augustine: Homilies on the Gospel of John, in The Nicene and Post-Nicene Fathers, First Series, vol. 7, edited by Philip Schaff, Sermon LXIX (CXIX Ben). GUTHRIE, Nancy. Come, Thou Long-Expected Jesus: Experiencing the Peace and Promise of Christmas. Illinois: Good News Publishers, 2008, p. 65-67. Traduzido e adaptado por Misael Nascimento, no Natal de 2010.

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