Em um post anterior afirmei que a Bíblia nos instrui a viver de tal modo que nossos procedimentos sejam um testemunho (Fp 4.5; 1Co 10.23-24, 31-11.1) e que, nestes termos, é possível destacar quatro princípios, quais sejam, adequação cultural, bom senso, santidade e simplicidade. Aqui discorro rapidamente sobre o segundo princípio.
Há quase que um consenso em considerar que o cristão deve vestir-se da melhor forma possível. A questão que se levanta é “qual é esta melhor forma e como discernir isso?” A resposta é simples: depende do contexto. Há tempo e ocasião para tudo (Ec 3.1-11). Há ocasiões em que o ideal é que se vista formalmente. Outras, em que o correto é vestir-se informalmente. Em alguns lugares exige-se o paletó e a gravata. Em outras, o jeans e a camiseta.
Ainda que se aceite o que escrevi nas últimas sentenças do parágrafo anterior, reconheçamos que as mesmas propiciam interpretações subjetivas. Eu, por exemplo, sou da opinião que numa Escola Dominical não há problema em usar uma roupa informal. Nada de estrelismos nem formalismos exagerados. Já num casamento ou culto vespertino exige-se uma vestimenta mais formal. Pra mim isso não é mera tradição vazia e sim respeito a cada ocasião e bom senso. Note, no entanto, que se trata de minha opinião e isso me desautoriza a tratar de maneira diferente as pessoas que optam por outros estilos de vestuário. Tenho de cuidar para não fazer acepção de pessoas (Tg 2.1-11). A igreja não é uma empresa multinacional, nem um órgão público, onde exige-se de todos que se vistam segundo o padrão executivo global. Ela é uma família, um corpo, ou, nos termos propostos por von Allmen, a igreja é pan-docheion (Lc 10.34), um lugar de acolhida para todos.[02] Nela, o formalismo dá lugar aos relacionamentos abertos, marcados pela mutualidade, amor e respeito à individualidade (Tg 2.8-9).
Em algumas igrejas, as exigências de uso de terno ou roupas sociais refletem a incorporação de padrões que muitas vezes não têm ligação com a cultura local. A igreja é convidada a se abrir com equilíbrio bíblico à cultura onde está inserida. Ela pode, por um lado, primar pela qualidade em tudo, inclusive do vestuário. No entanto, por outro lado, é possível atentar para o testemunho de humildade e pela identificação saudável com os costumes locais (1Co 9.19-23). Quando assume padrões de vestuário muito elevados, ela isola-se da cultura e transforma-se numa comunidade de “redoma”, na qual, para entrar, as pessoas precisam assumir outros códigos de vestuário contradizentes com os seus estilos pessoais.
Notas
02. VON ALLMEN, J. J. O Culto Cristão: Teologia e Prática. 2. ed. São Paulo: ASTE, 2005, p. 47.
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