O vestuário cristão: Introdução
Um jovem me perguntou como os discípulos de Jesus Cristo devem se vestir. Sua preocupação era em saber se Deus nos fornece orientação clara sobre isso. Respondi, primeiramente, que é sempre perigoso lidar com questões de usos e costumes de um ponto de vista legalista. Somos convocados pelo Novo Testamento a interpretar todas as coisas à luz do evangelho, ou seja, da graça divina que nos é dada por meio de Jesus Cristo. O legalismo, ao invés de libertar, prende e engana (Cl 2.20-23).
Outro detalhe é que a Bíblia nos instrui a viver de tal modo que nossos procedimentos sejam um testemunho (Fp 4.5; 1Co 10.23-24,31—11.1). Nesses termos, é possível destacar quatro princípios:
- Adequação cultural;
- bom senso;
- santidade;
- simplicidade.
O primeiro princípio será abordado neste post. Os outros, posteriormente.
Adequação cultural é o ajuste inteligente aos padrões estéticos vigentes. Observe, por exemplo, a foto acima, de John Owen, um dos teólogos que ajudou a escrever a Confissão de Fé de Westminster. Owen se vestia de forma cristã no século XVII, mas seria ridículo tentar reproduzir esse visual nos dias atuais, simplesmente porque nossa cultura possui padrões diferentes.
Em nenhum lugar da Bíblia é dito que os filhos de Deus devem se vestir de forma radicalmente diferente da sociedade em geral. O cristão é um ser humano conectado a uma cultura. O beijo de Judas, dado na ocasião do aprisionamento do Senhor Jesus, era um sinal de identificação (Mt 26.48-49). Jesus se vestia como os demais judeus. A carta a Diogneto, um documento da igreja antiga, informa que os cristãos se trajavam de forma semelhante ao restante do povo:
Não se distinguem os cristãos dos demais, nem pela região, nem pela língua, nem pelos costumes. Não habitam cidades à parte, nem empregam idioma diverso dos outros, não levam gênero de vida extraordinário. […] Moram em cidades gregas, outros em bárbaras, conforme a sorte de cada um; seguem os costumes locais relativamente ao vestuário, à alimentação e ao restante estilo de viver, apresentando um estado de vida (político) admirável e sem dúvida paradoxal. Moram na própria pátria, mas como peregrinos. Enquanto cidadãos, de tudo participam, porém, tudo suportam como estrangeiros. Toda terra estranha é pátria para eles e toda pátria, terra estranha.[01]
Assim sendo a moça de quinze anos que não se depila, não usa batom, não mostra as canelas, tudo “em nome de Cristo”, pode parecer espiritual, mas não encontra respaldo numa interpretação bíblica equilibrada.
Leia mais sobre isso no próximo post.
Notas
01. FIGUEIREDO, Fernando (Org.). A carta a Diogneto. 2ª ed. Petrópolis, Vozes, 1984, v.1-2, 4-5, p. 22. Grifo nosso.
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