Quanto mais ouço falar do ministério de revitalização de igrejas, mais considero a ideia estranha. Há uma esquisitice no próprio título, “serviço de revitalização”. Sem dúvida soa arrojado e contemporâneo, mas, nada bíblico. Busquei nas Escrituras uma referência direta a esse tipo de ministério e não encontrei. Também não achei nada sobre isso na história da igreja, pelo menos em seus primeiros dezenove séculos.
O Dicionário Houaiss nos informa que revitalizar é “tornar a vitalizar; insuflar nova vida ou novo vigor em”. Revitalizar uma igreja, dizem, tem a ver com torná-la relevante. Isso exige, afirmam, uma atualização cultural e metodológica. Já fui defensor de tal postulado mas hoje o rejeito, considerando-o equivocado.
Pensemos na natureza da vida eclesiástica: Qual é a origem da vida da igreja e quem a sustenta? Podemos entender a vida da igreja de um ponto puramente natural ou enxergá-la como obra divina. Se a vida da igreja decorrer diretamente da cultura e metodologias humanas, um ministério de revitalização é pertinente e muito bem-vindo. Se, por outro lado, a vida da igreja for análoga à vida da alma, teremos de considerá-la divina em sua origem e sustentação, e um ministério de revitalização torna-se dissonante da sã doutrina.
Dito de outro modo, nossos pais espirituais, ao constatar a estagnação de um trabalho, oravam. Hoje aplicamos métodos recomendados por especialistas. Os crentes do passado clamavam: “Fortalece tua igreja, ó Bendito Salvador! Sem tua graça ela ficará murcha e sem vigor!” Nós colocamos em andamento um cronograma de mudança de paradigmas e procedimentos. Os crentes anteriores eram simples: entendiam que Cristo é quem edifica a igreja e sem ele nada pode ser feito (Mt 16.18; Jo 15.5). Afirmavam que se uma igreja não seguir sua liderança, Deus deve ser buscado, pois ele é quem submete o povo aos líderes (Sl 144.2). Se uma igreja estiver desanimada ou confusa, Deus deve ser buscado, pois é ele quem faz seu povo beber do “cálice de atordoamento”, em tempos de disciplina (Is 51.17, 22). A solução para uma igreja sem vida é buscar a Deus que a socorre com o remédio do evangelho (Ap 3.18).
Os proponentes da revitalização da igreja se esforçam para substituir o piano pela guitarra, as vestimentas formais pela bermuda e a Bíblia Almeida Revista e Atualizada pela Nova Versão Internacional. Para eles, tudo o que velho é obsoleto. Aqui retomo uma ideia que citei apenas rapidamente em outro post: A relevância se torna prisioneira da forma.
Isso me faz lembrar minha adolescência teológica, empolgado com as mais recentes “descobertas” da Teologia Pastoral (especialmente, de Missões Urbanas). É fácil a gente abraçar uma causa cheio de boas intenções, confundido pelo vocabulário pretensamente bíblico e por promessas de uma igreja fervorosa e cheia de vida transformadas. Deus às vezes nos guarda, impedindo-nos de fazer estragos; outras vezes ele nos deixa prosseguir segundo nossos corações, a fim de sermos disciplinados juntamente com a igreja que pastoreamos.
Como pastor, desejo uma igreja viva, atual e relevante (aliás, como dizia uma irmã querida de Brasília, relevância é uma de minhas palavras favoritas). Apesar disso, sou ministro do evangelho e não ministro de revitalização. Se o evangelho em si não bastar para revitalizar, nada mais funcionará.
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