Visitar Israel (parte 2)

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No post anterior eu admiti que, como pastor reformado, me sentia desconfortável a incentivar viagens a Israel. Listei três coisas que me faziam pensar duas vezes antes de empreender tais incursões: Possibilidade de trato supersticioso com as coisas da “Terra Santa”, probabilidade de confusão doutrinária e o fato simples dos pastores reformados (especialmente presbiterianos) pensarem mais em Genebra do que em Jerusalém.

Apesar disso, viajei com um grupo nos dias 13 a 26 de abril de 2015 e, repito, fui positivamente surpreso e abençoado. Hoje eu entendo que, se Deus permitir, gostaria de visitar novamente as terras bíblicas, pelas razões que enumero a seguir.

Correção e contextualização geográfica

Visitar as terras bíblicas nos ajuda a corrigir e contextualizar histórica e geograficamente nossa leitura de alguns relatos da Escritura. É precioso meditar sobre a ocasião em que Davi poupou a vida de Saul (e relacionar a narrativa com a pessoa e obra redentora de Jesus) olhando diretamente para as cavernas de En-Gedi (1Sm 23.29—24.22).

Semelhantemente, é abençoador visitar Jericó e enxergar, em uma mesma paisagem, os diversos eventos redentivos realizados por Deus naquele lugar:

  1. A derrubada dos muros e salvação de Raabe, na época de Josué (Js 2.1-24; 6.1-27).
  2. A purificação das águas com sal, por meio do profeta Eliseu (2Rs 2.19-22).
  3. A cura dos cegos (dentre eles, Bartimeu, cf. Mt 20.29-34; Mc 10.46).
  4. A salvação de Zaqueu (Lc 19.1-10).

Defronte das escavações da antiga Jericó, olhando do alto, contemplamos o Jordão à direita (no local mais provável do batismo de Jesus) e o monte da tentação à esquerda, compreendendo visualmente a informação dos Evangelhos, de que logo após ser batizado, Jesus foi conduzido pelo Espírito Santo para ser tentado (Mc 1.9-13). Enfim, declarações simples como “descer de Jerusalém a Jericó” são plenamente absorvidas.

É o que ocorre quando contemplamos o vale que o Novo Testamento chama de Armagedom (Ap 16.16). A “ficha cai” quando olhamos para a imensidão do vale e lemos que ali os “reis da terra” se reunirão para batalhar contra Deus (Ap 16.14). Naquele lugar meditamos sobre a importância da perseverança cristã (Ap 16.15). Ademais, ouvir a mensagem bíblica sobre o milagre de Caná diante de uma talha autêntica do 1º século, dentro das escavações da sinagoga onde ocorreu o casamento; ou sobre o cuidado de Deus em um barco no Mar da Galileia; ou sobre oração do Jardim do Getsêmani; ou ainda ler Salmos 88 no poço de Caifás, onde Jesus foi preso antes de ser enviado ao Pretório… Em todas estas ocasiões, a leitura do texto torna-se colorida e tridimensional. Trata-se de uma experiência que, quem puder ter, deve buscar.

Senso histórico

Todo cristão reformado crê que os fatos da Bíblia são históricos, ou seja, o cristianismo não é baseado em mitos ou fábulas inventadas por homens (um mero “contos de fadas”; cf. 1Co 15.1-8, 14-19; Gl 1.11-12). No entanto, uma viagem às terras bíblicas é útil no sentido de reforçar nosso senso histórico.

Uma coisa é estudar sobre a Reforma Protestante em Wittenberg, ou em Genebra. Outra coisa é relembrar dos fatos visitando a casa de Lutero ou a igreja onde João Calvino pregou. Semelhantemente, pensar na confissão de Pedro em Cesareia de Filipe (Banias; cf. Mt 16.13-20) ou pisar nas ruínas do Pretório em Cesareia Marítima e ali lembrar da defesa de Paulo diante do governador Festo e do rei Agripa (At 25.13—26.32), robustece a convicção de que o texto bíblico contém fatos. Isso não significa que o cristão precise de evidências arqueológicas para crer. A fé é produzida soberanamente pelo Espírito Santo no coração do eleito e independente do que se vê (Jo 20.24-29; 1Co 2.6-16; Ef 2.8-9; Hb 11.1-3). No entanto, é bom poder afirmar que Deus não apenas fornece impressões subjetivas no coração dos crentes; Deus é Deus da história, Criador-Interventor, ou como diziam nossos pais na fé, Senhor da Criação e Providência.

A compreensão da nação de Israel como depositária de riquezas bíblicas

Uma visita a Israel nos ajuda a compreender a importância desta nação como depositária destas riquezas bíblicas. Simplesmente não teríamos acesso ao que vimos sem recursos e esforços de Israel no incentivo de escavações e preservação de sítios arqueológicos (com seus respectivos artefatos e manuscritos); na construção e manutenção primorosa de museus e na abertura para o trabalho interdisciplinar de eruditos judeus, católicos, protestantes, evangélicos, muçulmanos e de outras etnias. Acresça-se a isso a infraestrutura viária, o serviço hoteleiro excelente, a receptividade da população e a comida mais do que deliciosa. A nação de Israel é única nesse sentido e deve tanto ser visitada quanto lembrada em nossas orações (Sl 122.1-9).

A partir destas considerações, entendo que vale a pena visitar Israel.

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