A santidade de Cristo

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Deus é santo e sua santidade é o padrão para os cristãos: “Segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento, porque escrito está: Sede santos, porque eu sou santo” (1Pe 1.15-16; cf. Is 6.3).

A maior manifestação da perfeição divina é encontrada em Cristo (Jo 1.1, 14). Ele é o “homem perfeito”, aquele que foi tentado, mas permaneceu “sem pecado”; o exemplo que devemos imitar para que agrademos ao Pai (Hb 4.15). A obra do Espírito Santo consiste em nos transformar segundo a sua imagem (2Co 3.17-18).

Nosso Senhor praticou a oração, estudou as Escrituras e dependeu do Pai e do Espírito Santo (Mc 1.35; Lc 6.12, 11.1-4, 2.46-49; Jo 5.19, 30; Mt 4.1, 12.28). Tudo isso resultou em poder para realizar boas obras e revelou uma autoridade espiritual sem precedentes (Lc 6.19; Mt 7.28-29).

O mais interessante é que o Senhor Jesus não era um santo afastado da vida real. Ele era um judeu sociável, que participou de pelo menos uma festa de casamento, das cerimônias religiosas israelitas e de refeições festivas em casa de “pecadores” (Jo 2.1-12, 13; 5.1; 7.37; Mt 9.10). Sua postura escandalizou os religiosos da época, para quem era inconcebível ser santo e ao mesmo tempo conversar, comer e tomar vinho, especialmente com pessoas “imperfeitas” (Mt 9.11). Eles achavam absurdo que uma pessoa fosse comprometida com Deus sendo tão conectada à vida comum. Por isso disseram que Jesus era um “beberrão” e um “glutão” (Mt 11.19).

A relação de Cristo com a cultura é sugerida por alguns estudiosos. Pra começar, ele exerceu uma profissão secular. Os eruditos Thiede e D’Ancona sugerem que, como um “carpinteiro” ou “construtor”, Jesus provavelmente participou ativamente dos trabalhos de reconstrução de Séforis, a capital da Galileia, situada a apenas 6 km de Nazaré.[1] O texto de Marcos 7.26 inicia com “esta mulher era grega”. A expressão no original é He de gyne en Hellenís, “e a mulher falava em grego”, indicando que Jesus conversou com aquela mulher no idioma grego (ele utilizava a tradução grega das Escrituras, a Septuaginta). Ademais, um dos seus ditos prediletos era uma expressão técnica do teatro grego: hypókrisis, “hipocrisia” e hypokritai, “hipócritas” ou “atores”. Considerando seu fácil acesso a Séforis, cidade que possuía um teatro para cinco mil pessoas, não é absurdo considerar que Jesus pode ter frequentado o teatro.[2]

Se isso for assim, é possível concluir que nosso Senhor Jesus Cristo, apesar de não ser rico, exerceu uma ocupação técnica que permitiu-lhe transitar em vários ambientes, interagindo em pelo menos três idiomas (aramaico, hebraico e grego). Ele demonstrou, em sua vida comum, que ser espiritual não equivale a fugir da cultura. Podemos ser santos e perfeitamente integrados à cultura brasileira (resguardando-nos de suas ideias e práticas pecaminosas).

No próximo post eu escrevo sobre a relação do Senhor Jesus com a criação e os homens.

Notas

[1] THIEDE, Carsten Peter; D’ANCONA, Matthew. Testemunha Ocular de Jesus: Novas Provas em Manuscrito Sobre a Origem dos Evangelhos. Rio de Janeiro: Imago, 1996, p. 181.

[2] THIEDE; D’ANCONA, op. cit., p. 181-182.

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