A presença de um ou mais ministros auxiliares acrescenta um elemento novo à dinâmica conciliar. A legislação da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), pelo que entendo, permite duas interpretações, o funcionamento como colegiado (figura 01) e como equipe pastoral (figura 02).
Figura 01. Vários pastores em um colegiado.
O modelo do colegiado é defendido a partir da possibilidade de presidência alternada do Conselho, estabelecida no Estatuto da Igreja Local (EIL): “[…] se a Igreja tiver mais de um pastor, exercerão a presidência alternadamente, salvo outro entendimento”.[1] Ele rompe com a ideia de hierarquia e considera os títulos de pastor efetivo e pastor auxiliar como meras formalidades. Todos os integrantes do colegiado têm igual autoridade e as questões pastorais são conduzidas por consenso.
Figura 02. Pastorado auxiliar como equipe pastoral.
O modelo de equipe é defendido a partir das especificações fornecidas pela CI/IPB: o pastor auxiliar é “ministro que trabalha sob a direção do pastor [efetivo], sem jurisdição sobre a Igreja”.[2] De acordo com esta ótica, um ou mais pastores auxiliares trabalham sob a liderança de um pastor efetivo que fornece a visão e os parâmetros gerais do ministério.
No modelo do colegiado a representação civil da igreja é tanto do pastor efetivo quanto dos pastores auxiliares. Quem preside momentaneamente o Conselho responsabiliza-se por seus atos que podem ou não ser consonantes com a visão do pastor efetivo.[3] No caso do modelo de equipe, a condução do pastor efetivo é central.
Exige-se, em ambos os casos, um perfeito alinhamento dos pastores.[4] É interessante que em uma reunião do Conselho presidida pelo pastor efetivo, apesar do pastor auxiliar não ter jurisdição sobre a igreja, é membro ex officio do Conselho e pode votar.[5] Na prática isso significa que um pastor auxiliar pode votar contra o pastor efetivo e não ser responsabilizado formalmente no caso da decisão prejudicar a igreja. Em outras palavras, um pastor auxiliar pode servir de obstáculo ao pastor efetivo, isso plenamente munido de poder constitucional para votar contra este. Em determinadas situações, presbíteros regentes contrários à liderança do pastor efetivo podem cooptar o pastor auxiliar fortalecendo um movimento de oposição.
Considero como mais bíblico e consistente com a CI/IPB o modelo de equipe ministerial. Os anciãos de Israel serviram sob a liderança de Moisés (Êx 18.25-26); o colégio apostólico foi liderado — às vezes conduzido a contragosto — pelo Redentor (Mc 1.35-39); Paulo norteou o trabalho de seus companheiros de trabalho, Timóteo e Tito (1Tm, 2Tm e Tt, passim). Uma igreja sem condução humana caminha tateando no escuro (Pv 11.14); uma igreja com dois ou mais direcionamentos concorrentes perde-se em disputas e não caminha de jeito nenhum (1Co 3.3-4).
Nesses termos, parecem caminhar melhor com vários pastores as igrejas nas quais há um pastorado bíblico, amoroso e forte do pastor efetivo, bem como o pleno alinhamento — o que denota jamais engendrar articulações políticas mundanas — dos pastores auxiliares e presbíteros regentes com a visão e estilo ministerial do pastor efetivo. Ademais, faz-se necessária uma cultura absorvida pela membresia, que a leva a reconhecer como naturais tanto a liderança do pastor efetivo quanto a distribuição de tarefas. Isso corresponde a acolher como normais as decisões do pastor efetivo quanto aos pastores auxiliares — desde que bíblicas e constitucionais — e não exigir do pastor efetivo que atenda a atribuições que, na divisão do trabalho, cabem ao pastor auxiliar.[6] É fundamental, ainda, que os membros da igreja não alimentem mexericos, fazendo comparações não-edificantes entre o pastor efetivo e os pastores auxiliares. Um sumário dessas considerações é apresentado na tabela 01.
Fatores que favorecem a formação de equipes pastorais | |
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Pastor efetivo | Pastorado efetivo bíblico, amoroso e forte |
Pastor auxiliar e presbíteros regentes | Total alinhamento à visão e estilo ministeriais do pastor efetivo; trato honesto com o pastor efetivo |
Cultura eclesiástica | Liberdade dada ao pastor efetivo para tomar decisões bíblicas e constitucionais quanto à equipe pastoral; acolhimento sem alarde de distribuição de tarefas; a comunidade não dá ouvidos nem promove a propagação de mexericos |
Tabela 01. Fatores que favorecem a formação de equipes pastorais.
Uma vez atendidas as condições acima, a igreja está pronta a acolher, para glória do Senhor e edificação dos santos, um ministério de vários pastores.
Notas
1. Capítulo II, Art. 3. In: CAMPOS, Silas. (Org.) Manual Presbiteriano: Edição Especial Com Jurisprudência e Resoluções do SC-IPB e sua CE, até Março de 2008. São Paulo: Cultura Cristã, 2008, p. 235.
2. Capítulo IV, Seção 2, Art. 33, § 1º e 2º. In: CAMPOS, op. cit., p. 32. Grifos nossos.
3. EIL, Capítulo II, Art. 3, Parágrafo Único. In: CAMPOS, op. cit., p. 235.
4. O termo “alinhamento” não deve ser compreendido como submissão cega a uma direção autoritária, repressão da liberdade de consciência ou conformação que reprime a diversidade. O alinhamento a um líder é simplesmente o respeito ao seu ponto de vista, a submissão fiel e inteligente à sua direção e o esforço para fortalecer sua liderança, de modo que os alvos bíblicos para a igreja sejam alcançados.
5. CI/IPB, Capítulo IV, Seção 2, Art. 33, § 2º. In: CAMPOS, op. cit., p. 32.
6. Em uma igreja conhecida deste autor, um pastor auxiliar foi integrado à equipe para assumir a tarefa de visitação dos membros. Alguns destes, ainda que visitados pelo pastor auxiliar, reclamavam de que não eram visitados pelo pastor efetivo. Trata-se, obviamente, de uma igreja cuja cultura não suporta o pastoreio por mais de um pastor.
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