Um círculo de sanidade é um espaço de organização da mente e dos sentimentos, uma fronteira imaginária entre nós e aquilo que nos pressiona e perturba. Fora de seus limites impera o caos — a vida tal qual a conhecemos, conturbada e aflitiva. Dentro do círculo há silêncio. Neste reino da quietude tudo ganha nova forma e ritmo. Nele selecionamos o que nos convém, analisamos, olhamos por diversos ângulos e emitimos juízo de valor mais desapaixonado, sensato e inteligente.
O círculo de sanidade é um muro. Tudo o que vem desgovernado despedaça-se em suas paredes impenetráveis. Só é possível entrar com permissão. E cada convidado é tratado com gentileza e, ao mesmo tempo, saudável desconfiança, porque no círculo tudo é verificado com cautela e só permanece o que é bom para a saúde, o que convém ao santo propósito da graça de Deus, o que é bom para nós e para os que amamos.
No círculo definimos o que precisamos dar e o que temos de reter, o quanto devemos sorrir e em que medida tempos de ser sérios, como, quando e por que avançar e, nos mesmos termos, retroceder. Ali, banhados da contínua luz de aurora da consciência iluminada pelo Consolador, somos revestidos de coragem e relembramos quem somos em Deus e nos preciosos vínculos da vida, da fraqueza e da morte. Tornamo-nos conscientes do que temos que fazer diante de cada desgaste, estresse ou frustração. Rimos à socapa e “chutamos o balde”, expressamos sentimentos livremente. Em seguida, nos recompomos.
A opção ao círculo é sermos devorados. Somos protegidos pelo círculo ou atropelados. Podemos ser criaturas pacificadas ou poças de sangue, sobreviventes agraciados ou cadáveres triturados pela rotina.
Os antigos davam nomes diferentes ao círculo: lugar de oração e meditação; jardim de devoção. Eu o chamo de lugar de reunião familiar, pois é sempre iniciado na solidão e, pouco a pouco, recebe minha esposa, filhas, genro e netas. E quanto a Deus? Observe que falo de convidados. Deus não é um convidado ao meu círculo. Ele é o seu criador e proprietário sempre presente. Verdadeiramente, Deus é o mantenedor do silêncio e da paz. Ele faz do meu círculo um “pasto verdejante” junto a “águas tranquilas”.
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