No post anterior eu afirmei que fui ajudado, em minha ponderação sobre o cristão e os vícios, quando li alguns textos de Agostinho (sobre o modo, a espécie e a ordem) e de Aristóteles e Tomás de Aquino (sobre os vícios como hábitos).
Agostinho, pastor do quinto século, afirmou que “nós adoramos a Deus, de quem procedem todos os bens, grandes ou pequenos”.[1] Em tudo o que Deus criou, tanto nas coisas espirituais quanto nas corporais, dizia ele, podem ser encontradas três coisas: o modo, a espécie e a ordem. O que torna uma coisa superior a outra? Nos termos agostinianos:
Onde se encontrarem estas três coisas em grau superior, aí haverá bens superiores; onde estas três coisas se encontrarem em grau inferior, inferiores serão aí também os bens; onde elas faltarem, aí não haverá bem algum.[2]
Olhando por esse prisma, santidade é um alinhamento ao padrão da criação: comunhão com Deus, moderação, especiosidade e organização. Especioso é sinônimo de belo. Uma coisa é mais bela do que outra na medida em melhor se adequa aos padrões de simetria e proporcionalidade — tanto física quanto espiritual — da criação.
O que é, de modo amplo, o mal, e de modo específico, o pecado? A “corrupção ou do modo, ou da espécie, ou da ordem naturais”.[3] Assim deve ser compreendida a Queda (Gn 3) e a partir daqui, a própria redenção (2Co 5.17). Aguardamos por uma restauração da ordem criada (Rm 8.18-25; Ap 21.5).
Se isso é assim, um vício é uma imoderação, uma ofensa à beleza e, ao mesmo tempo, uma demonstração de desordem na alma. Não apenas, nos termos do evangelho, vícios podem como devem ser vencidos, uma vez que, por sua “natureza”, são antinaturais.[4]
Dito isto, cabe observar que tanto Aristóteles, quanto Tomás de Aquino, entendiam que vícios são hábitos que destoam do padrão da criação. Leia mais sobre isso no próximo post.
Notas
1. AGOSTINHO. A natureza do bem. 2ª ed. Rio de Janeiro: Sétimo Selo, 2006, p. 5.
2. Ibid., loc. cit.
3. Ibid., p. 7.
4. Agostinho argumenta que onde faltam o modo, a espécie e a ordem, aí já não existe natureza alguma. Enquanto a Psicologia popular considera “natural” tudo o que brota das inclinações de homens e outros animais, Agostinho define como natural apenas o que reflete a obra e intenção do criador supremo.
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