Sobre intolerância religiosa

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Na semana passada, eu fui procurado pela repórter Luciana Vinha, em nome do Diário da Região, perguntando se eu podia responder três perguntas sobre intolerância religiosa. Eu considerei as questões pertinentes e encaminhei minhas respostas.

No sábado, 20 de janeiro, eles publicaram a reportagem intitulada Sem medo de ter fé (print a seguir).


Reportagem sobre intolerância religiosa, publicada no Diário da Região, em 20/01/2024.

Confesso que considerei incomum uma reportagem com a foto de um pastor evangélico ao lado de líderes de outras religiões. No entanto, é disso que trata a matéria, ou seja, a convivência de pessoas de crenças distintas em um mesmo espaço social.

Como era necessário dar voz a outros entrevistados, publicaram apenas um recorte de minhas ideias. Sendo assim, decidi transcrever na íntegra o texto que enviei.

Transcrição das respostas encaminhadas ao Diário da Região

1) Qual a importância de combater a intolerância religiosa?

A Reforma Protestante do século XVI sublinhou a importância e lugar da consciência individual. A sociedade é enriquecida quando respeita a liberdade de pensamento e crença. Uma crença pode ser compartilhada e até debatida, mas nunca forçada. Precisa ser abraçada voluntariamente.

2) Por que algumas pessoas são tão preconceituosas umas com as outras em relação às suas crenças? O que falta para conscientizá-las?

Podem ser várias as razões que conduzem pessoas à intolerância, desde o medo até o fanatismo. O diferente produz desconforto e o entendimento requer aproximar-se para ouvir, compreender e conhecer a fundo. Para alguns, é mais fácil rotular e atacar, ou seja, evidenciar a distância, do que construir pontes.

O apóstolo Paulo fala sobre o amor que “tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1Coríntios 13.7). Ele está descrevendo o amor semelhante ao de Jesus Cristo. A prática deste tipo de amor nos tornaria mais aptos a conversar mutuamente, ou seja, seríamos mais tolerantes.

3) O que a Bíblia diz a esse respeito? Poderia citar algum trecho como exemplo?

Em 1Coríntios 13.4, lemos que “o amor é paciente, é benigno” e o termo grego chrēsteuomai, traduzido como “benigno”, quer dizer “tolerante” ou “gentil”.

Em nenhum lugar a Bíblia afirma que todas as pessoas do mundo devem ser cristãs.

O ideal bíblico é que o cristão viva em uma sociedade com liberdade para identificar-se como crente, sem sofrer retaliações por isso. Ele pode testemunhar sobre sua fé, explicando-a a quem se interessar por ela. No entanto, ele não pode impor sua fé a ninguém. O outro lado da moeda é que ele deve estar disposto a ouvir o ponto de vista de outros com atenção genuína, gentileza e respeito. Mesmo que a pessoa ao meu lado não assuma minha fé cristã, eu posso caminhar com ela neste mundo, respeitando-a e tolerando-a com o amor de Jesus.

Eu aprendi sobre a origem do Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa e acredito que sim, os cristãos evangélicos devem ser contrários a todo tipo de intolerância quanto à religião, pelo simples fato do respeito à liberdade de consciência e crença derivar não apenas da Constituição de 1988, mas também da Reforma Protestante do século XVI e de uma leitura e aplicação equilibradas das Sagradas Escrituras.

Como foi dito pelo Pr. Fabiano Veloso, citado na reportagem, tolerar não significa concordar. Há situações em que, por fidelidade às Sagradas Escrituras, nós, cristãos, temos o dever de discordar de outras crenças. Isso, porém, deve ser feito, como orientado o apóstolo Pedro, “com mansidão e temor, com boa consciência, de modo que, naquilo em que falam contra vós outros, fiquem envergonhados os que difamam o vosso bom procedimento em Cristo” (1Pe 3.16).

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