O fato, em termos de mídia, já envelheceu. Na época eu estava às voltas com as pastorais sobre o amor de Deus e não tive como abordar a questão. Hoje, com algumas semanas de atraso, refiro-me ao evento ocorrido em Santo André, que finalizou com a morte da adolescente Eloá Cristina Pimentel.
Chamo a atenção, especificamente, para um detalhe da psicologia do jovem Lindembergue Alves, sua dificuldade em lidar com frustrações. Trata-se de algo inerente a todos nós e que se torna cada vez mais destacado na cultura ocidental. Até tempos atrás, ainda que todos admitíssemos ser tomados, vez por outra, de arroubos de indignação e até inveja diante das perdas, agora a situação ganha contornos apocalípticos. Disputam espaço duas gerações para quem o “não” é traumático e existencialmente fulminante. “Eu quero isso e pronto!” Eis o argumento que define a parada. “Se eu não for satisfeito farei um estrago”. Assustadoramente simples.
Deus nos educa dizendo-nos “não” (Êx 20.1-17). Para nosso benefício ele não faz as nossas vontades. Ele nos humilha para que saibamos que não somos deuses e nos priva da satisfação escancarada de nossos apetites para que aprendamos a ter prazer somente nele. Somos por ele revestidos e dele recebemos domínio próprio e longanimidade.
O objetivo divino é que, assentada a poeira da tribulação, escorrida a seiva da frustração, permaneçamos doces. Difícil? Isso é maturidade. Sofremos como personagens de música sertaneja e depois nos colocamos de pé, consolados pelo Espírito. Aprendemos que viver é perder com louvor no coração, ainda que doído.
Ademais, por meio de Cristo podemos lidar com aqueles que nos decepcionaram, os arquitetos de nossas perdas e suposta humilhação, olhando-os nos olhos, respeitando-os, entregando-os aos cuidados de Deus e amando-os nos termos da Escritura.
Lindembergue foi às últimas conseqüências de seu desejo: Possuir ou destruir. Não se trata de amor a Eloá, mas de obsessão doentia por si próprio, que usa o outro como objeto cujo bem-estar nem sequer é considerado. “O que importa é o que eu quero”. Estamos prontos a perder para que o outro ganhe? Nas palavras do Cântico dos cânticos o amor não pode ser comprado ou forçado (Ct 8.7).
A opção de quem não sabe lidar com a frustração é a violência explícita ou tácita. Truculência no trato “educado” ou demonstrações visíveis de descontentamento; um salto no abismo do desespero que leva à autodestruição enquanto é reclamado um “direito”; absurdo dos absurdos. Por detrás do humano um animal — o pecador desfigurado e transtornado — que rosna furioso porque perdeu.
A raiva da perda pode ser eliminada pelo tratamento do Espírito. Os passos são regeneração, conversão e busca de mudança espiritual, pela Palavra, no poder do Consolador. Outras situações exigirão cuidados clínicos. Somos frágeis também na mente e emoções e não é vergonhoso pedirmos ajuda. Um cristão que se consulta com um psicólogo ou psiquiatra não é menos espiritual do que quem é ajudado por um fisioterapeuta ou cardiologista. É melhor providenciar a solução enquanto há tempo, antes que se percam outras Eloás.
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