Hardware e divulgação

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Um dos grandes trunfos do Mac OS X é o oferecimento de suporte a desenvolvedores Web e programadores, principalmente na linguagem Java. Apple e Microsoft assumem, mais uma vez, estratégias opostas. Enquanto o Mac OS X oferece pleno suporte ao Java, o Windows XP o elimina, pelo menos de sua instalação padrão (qualquer usuário de Windows poderá baixar a JVM — máquina virtual Java — em separado, no site da Microsoft).

O potencial de atrair desenvolvedores é grande, mas enfrenta dois grandes obstáculos: O preço do hardware e a publicidade tímida.

Quem desenvolve aplicativos com PCs, gasta menos. É um fato. Esta diferença não é tão grande quando se pensa nos equipamentos portáteis, mas torna-se significativa quando se comparam custos de máquinas desktop. Nem todo mundo está disposto a investir mais de R$ 4.000 em um computador apenas para programar. Com metade desses recursos, monta-se uma máquina capaz de dar conta da maioria das tarefas de desenvolvimento. O movimento de uma janela, retorcendo-se e minimizando-se no Dock é muito legal, mas não é capaz de motivar a comunidade geek a gastar o dobro para escrever códigos em arquivos de texto.

Os desenvolvedores são uma força de consumo. Qualquer pessoas nota isso quando examina as listas de livros mais vendidos na área de informática. Quem consome aqueles tijolões de mais de R$ 100,00 o volume? Tenha certeza de que não são os usuários apenas de AppleWorks. Trata-se de gente que quer escrever programas e scripts em Java, C++, Basic, PHP, ColdFusion, Delphi e outras linguagens. Esse pessoal investe em software e informação. E o investimento não é pequeno.

Por outro lado, desenvolvedores não estão nem aí para as curvas ou cores do iMac, ou o novo tom leitoso do gabinete do iBook, ou os botões semitransparentes do Aqua. Eles querem desenvolver soluções que atendam a todas as plataformas; sobreviver atendendo aos universos Windows, Unix, Macintosh e Web. Pode parecer chocante, mas é isso mesmo. Eles não se preocupam tanto com a posição do Dock, se pode ficar à esquerda ou direita na tela, ou com as novas ferramentas do iTools. Eles comparam custos e benefícios e optam por soluções que atendam a estes quesitos. Eles precisam escrever programas de qualidade a baixo custo. Até porque se não puderem fazer isso, estão fora do mercado. Finito.

Solução: Baixar o preço do hardware. Como fazer isso? Espero que a Apple Brasil desate este nó, senão a sua maravilha de sistema operacional continuará sendo usado por uma minoria de usuários — os poucos agraciados com condições para optar por uma máquina pensando apenas em seus atributos de design.

Mas mesmo a redução de custo é insuficiente, pois os consumidores precisam saber exatamente o que as novas máquinas e o novo sistema oferecem. Ok, o Mac OS X é o mais avançado sistema operacional do mundo… Como assim? Por quais razões?

O Windows xp chega ao mercado lastreado por um investimento de US$ 200 milhões em marketing. Somente a revista INFO, edição de setembro de 2001, dedica 15 páginas a explicá-lo com detalhes, anunciando “grandes novidades” que, em sua maioria, já existem no Mac OS X! Quanto ao sistema da Apple, a mesma revista, na época de sua chegada ao Brasil, escreveu uma coluna seca, enxutíssima, sem nenhum apelo aos usuários e com total ausência de informações relevantes.

Se nos EUA o iBook é mostrado em painéis na Times Square, no Brasil ele só é divulgado em canais de TV por assinatura. Os evangelistas do Mac já estão ficando roucos, cansados de gritar aos quatro ventos que o “Mac é o melhor”, empinando-se em praças públicas como pregadores pentecostais, munidos de gramofone e camisetas da maçã, cercados por propagandas e publicações pecezistas. Ninguém precisa explicar à maioria das pessoas o que é o Windows e, pasmem, isso se aplica cada vez mais ao Linux, mas quando se fala em Macintosh, em Mac OS, em Mac OS X, é irritante percebermos muchochos e questionamentos mal pronunciados do tipo “Massintóxi? Méqui ouésse? Êipou? O que é isso?”. Pela mãe do guarda, isso é sinal de marketing mal implementado. Simplesmente a marca não foi impressa na mente dos consumidores brasileiros. E se isso não mudar, sorry Apple, mas o Mac OS X, apesar de fenomenalmente poderoso, elegante e estável, não vai deslanchar, pelo menos em terras tupiniquins.

Tais considerações revelam o quanto torcemos para que a Apple acerte, a plataforma se consolide, e o hardware e software Mac sejam verdadeiramente absorvidos pelo mercado brasileiro. Queremos Apple e o Mac OS X. Mas precisamos nos animar vendo soluções de custo de equipamentos e publicidade arrojada.

Como já dizia o Apocalipse de João, “quem tem ouvidos para ouvir, ouça”.

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