Durante muitos anos utilizei duas metáforas para explicar o serviço pastoral, quais sejam, a do gerente de equipe e a do treinador. Afirmei diversas vezes a membros de igrejas, alunos de graduação e pós-graduação em Teologia, e também a colegas de ministério, que o pastor deve lidar com o seu corpo de líderes como um administrador ou gerente que fornece visão, motiva e monitora os processos. Ele também inspira provendo instrução, formando mentalidade e hábitos de eficácia e cobrando resultados.
Depois de passadas muitas águas debaixo da ponte, reconheço que errei.
É claro que há semelhanças entre o trabalho pastoral e as responsabilidades de um gerente de equipe ou treinador. O desenvolvimento de habilidades administrativas e educacionais é necessário a qualquer vocacionado para o ministério. O problema é que tais analogias possuem mais pontos fracos do que fortes.
A dificuldade decorre das origens de ambas as metáforas. Tanto management (gestão, administração) quanto coaching (treinamento ou instrução) são ferramentas do universo corporativo, portanto, focadas em resultados financeiros e institucionais. O treinador de uma equipe esportiva está lá para levar o time à vitória tangível. Sua carreira será curta se não atingir tal objetivo rápida e sucessivamente. Em tais ambientes, ainda que haja sincero esforço para criar familiaridade e comunidade, tem-se como finalidade última a redução de custos operacionais, a expansão da base de clientes e o aumento dos lucros. Até em uma empresa “familiar”, na qual exista excelente “vivência comunitária”, quem não se encaixa no processo produtivo é demitido e ponto final.
Resumindo, management e coaching não são capazes de produzir uma comunidade centrada no amor.
Expressando-me de outro modo, eu utilizava Efésios 4.11-12 para defender a ideia de que um pastor deveria ser um gerente ou treinador de sua igreja, de modo que cada crente pudesse saber como “desempenhar seu serviço”. Se isso fosse feito, eu pensava, a igreja cresceria.
Investi mais de dez anos nesta visão e me esqueci de prestar atenção na passagem inteira.
O apóstolo diz que o resultado final do exercício dos ofícios na igreja é uma comunidade que segue “a verdade em amor” (Ef 4.15). Até mesmo o trabalho conjunto que produz crescimento, diz-nos Paulo, é “em amor” (Ef 4.16). Se, no fim das contas, não houver amor, o trabalho pastoral falhou.
O amor é, em primeira instância, dom de Deus. Daí, decorre do gracioso atendimento, da parte de Deus, de nossas mais fervorosas súplicas. Se Deus não conceder à igreja um batismo de amor, esta permanecerá seca como um vale de ossos. Por isso o serviço pastoral é, primariamente, um chamado à oração.
O amor é cultivado em relações afetuosas de discipulado. Falhei redondamente ao investir mais tempo em gerenciamento e em formatação de cursos do que em tomar café na casa dos meus irmãos e irmãs. No fim das contas, aquilo que fica marcado no coração e na memória são as boas risadas em torno de um gostoso bolo de fubá, e o abraço apertado dado no momento em que um caixão é colocado no fundo de uma cova. Vínculos humanos são mais valiosos do que vínculos institucionais. Presença, ainda que silenciosa, nos momentos-chave da vida, é muito mais importante do que transmissão de conceitos abstratos de liderança. Por isso o serviço pastoral envolve o cultivo da visitação.
Descobri que o resultado de longo prazo de um pastorado baseado em administração é horrível. Produz-se uma comunidade eficiente e seca.
Sendo assim, o pastoreio não é management nem coaching e sim discipulado cristão. Quanto mais reflito, mais me convenço de que a diferença é radical.
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